sábado, 29 de setembro de 2012

REDEMUSICATIVA: a lógica da cultura em rede


Por Amaudson Ximenes*

A partir da primeira metade dos anos de 1990, é crescente a quantidade de movimentos sociais organizados a partir da lógica das redes sociais. Um dos mais expressivos, citados pelo cientista social catalão Manuel Castels no livro “O Poder da Identidade”, foi o de Chiapas, no México, tendo como principais ícones e ferramentas de mobilização social o subcomandante Marcos e a internet que foram capazes de sensibilizar artistas, músicos, a opinião publica para a opressão que vinham sofrendo do Governo e das elites daquele país.

Nos anos 2000, com a mobilização e a consolidação da internet no Brasil, grupos sociais, artistas, músicos passaram a se comunicar com bastante frequência seja socializando e compartilhando músicas, seja através de demandas advindas do segmento artístico cultural brasileiro. Nesse período, questões como a da Ordem dos Músicos do Brasil, dos Direitos Autorais, da difusão e distribuição da música de forma horizontal, consideradas intocáveis e inquestionáveis por parte do poder constituído, começaram a ganhar popularidade na mídia, nas listas de discussão e fóruns. Paralela a todas essas transformações viria a eleição do Governo Lula, cujas demandas ganhariam espaço dentro do Ministério da Cultura, da FUNARTE, através das Câmaras Setoriais.
No estado do Ceará, músicos, entidades e produtores se mobilizaram através do Fórum de Música do Ceará, da Rede Ceará de Música e da Rede Musicativa, a qual iremos dedicar uma maior atenção.
Nascida de discussões com o poder público (Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da FUNCET) nos idos de 2007, foi integrada à Associação Cultural Cearense do Rock, ONG movimento Pró-Cultura, ao Festival Ponto.CE e ao selo musical Empire, todos com grande representatividade no segmento musical voltado para o Rock alencarino. Na primeira edição, o projeto circulou por Praças, Paço Municipal, espaços culturais como o Hey Ho Rock Bar e Centro Solidário BOM Mix, bem como pelo saudoso Calçadão da ACR, no Jacarecanga, que recebeu o projeto Sexta Rock e uma prévia do Festival Ponto.Ce. O projeto movimentou mais de 60 grupos musicais com a programação aberta ao público. Foi uma experiência pioneira, horizontalizada, funcionando a partir da lógica das redes sociais.

O projeto teria um hiato entre os anos de 2008 a 2010, voltando a funcionar com mais agentes sociais em sua versão de 2011. Além dos já citados acima, a Feira da Música de Fortaleza, viria a integrar a Rede Musicativa em sua segunda edição. Além da programação gratuita e descentralizada, a rede traria uma discussão bastante pertinente e atual, a guerra contra o Crack. Com o lema “Crack tô Fora!” músicos e agentes culturais se mobilizaram no sentido de contribuir e influir positivamente junto a juventude local sobre os males que o crack provoca na sociedade, sobretudo nos jovens. Além do mais, a circulação funcionou como prévia dos festivais ligados às entidades e agentes envolvidos. Assim ForCaos, Rock Pró-Cultura, Feira da Música de Fortaleza e Ponto.CE tiveram suas prévias inseridas na circulação cultural promovida pela Rede Musicativa.

Na edição de 2012, outro agente importante da cultura local passa a integrar a Rede Musicativa: o coletivo Panela Rock. A programação descentralizada e gratuita, a campanha “Crack tô fora” são iniciativas que caracterizam as ações da Rede. Em sua versão atual questões como a ocupação de espaços públicos como o Estoril, realizada pela Casa Fora do Eixo Nordeste e Feira da Música de Fortaleza, bem como ações ligadas ao esporte e à valorização da memória cultural da cidade através da “1ª Bicicletada do ForCaos” são atividades que passaram a contribuir para a ampliação e o fortalecimento da lógica da cultura e dos movimentos sociais em rede.

*Sociólogo, músico, presidente da Associação Cultural Cearense do Rock

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