segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

CINEMA BRASILEIRO/2013 – a partir de janeiro, 47 filmes


O Cinema Brasileiro vai começar o ano de 2013 já com 47 filmes integrados ao Calendário de Lançamentos. É uma notícia muito alvissareira, já que esse número deve representar, no mínimo, a metade dos filmes que chegarão às telas durante o ano. O filme de abertura do Calendário para o cinema nacional será O Som ao Redor, a premiadíssima estreia do ex-crítico de cinema pernambucano Kléber Mendonça Filho na direção de longa-metragem, mas outras produções igualmente premiadas, como Colegas Meu Pé de Laranja Lima, se destacam entre outras dezenas de títulos
Lázaro Ramos em ACORDA BRASIL (2013), de Sérgio Machado
O mês de janeiro terá, além da produção pernambucana, outros 3 filmes em estreia: Open Road, de Márcio Garcia, com Camilla Belle, Christiane Torloni e Andy Garcia, sobre uma brasileira que vai para os EUA em busca do pai; Acorda Brasil, de Sérgio Machado, com Lázaro Ramos e Taís Araújo, a adaptação do romance do empresário Antônio Ermírio de Moraes sobre um músico que cria uma orquestra com crianças; e o documentário Jorge Mautner: o Filho do Holocausto, de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt.
Entre os filmes que devemos ficar de olho, Você Nunca Disse Eu Te Amo, o novo trabalho de Bruno Barreto, anteriormente intitulado Flores Raras; os premiados Meu Pé de Laranja Lima, de Marcos Bernstein, e Colegas, de Marcelo Galvão, além de A Busca, de Luciano Moura, com Wagner Moura e Mariana Lima, e a animação História de Amor e Fúria, de Luis Bolognesi.
Confira o Calendário de estreias do cinema brasileiro em 2013.
Calendário de Estréias criado pelo Informe Filme B
Conheça o trailer de Open Road:
 Diário do Nordeste

Cantor estreia como cineasta e se torna usina de shows aos 66

É para 2013 que ele promete a estreia de "A Luneta do Tempo", seu primeiro filme, do qual assina roteiro e direção

Abençoado o repórter que consegue fazer três perguntas a Alceu Valença. Como se o mundo fosse acabar ali mesmo, ele toma para si as funções de entrevistado e entrevistador assim que apanha o telefone e sai atropelando a própria ordem narrativa que tenta construir. Cinco ou seis minutos se passam com Alceu respondendo as próprias questões até que ele respira, diz um "tá me ouvindo, meu velho?", ganha confiança ao saber que sim e recoloca o indicador no gatilho. Alceu, 66 anos, vive presente, passado e futuro ao mesmo tempo. Cinco safenas caprichosas deixaram o seu coração igualzinho ao Recife, "cheio de pontes".

Alceu, 66 anos, vive presente, passado e futuro ao mesmo tempo: o coração safenado se assemelha ao Recife que tanto ama, cheio de pontes. Em 2013, ele estreia "A Luneta do Tempo", com Hermila Guedes no elenco


É um giro e tanto o que lhe aguarda nos próximos dias: passou por Rio Negrinho, Santa Catarina, para participar de um festival de rock que o tem como atração principal. "Mas você faz um rock que não é rock!", disse a ele um confuso jornalista norte-americano depois de vê-lo em um show no Carnegie Hall, em Nova York, nos anos 80. Depois, Sobral, interior cearense, pronto para outro formato de show, mais centrado em frevos e em Luiz Gonzaga para festejar o Réveillon. "Mas sua banda, Alceu, é uma banda de pife elétrico!", disse a ele Gonzagão, aperreado com o que ouvira, antes de fazerem juntos a canção Plano Piloto. O músico segue então para o Sesc Pompeia, São Paulo, para tocar dias 4, 5 e 6 de janeiro seu modelo acústico, com a acordeonista Lucy Alves e o guitarrista e parceiro de anos Paulo Rafael, que neste projeto sustenta as harmonias dos clássicos de Alceu com viola e violão. Quatro dias depois e o novo destino será os palcos de Lisboa e Paris para uma temporada que desengaveta mais memórias. Estava Alceu em 1979 prestes a se apresentar no New Folk Festival, na Suíça, quando um repórter o abordou no camarim. "O que você acha de cantar antes da Joan Baez?". Alceu olhou o rapaz de alto a baixo e devolveu: "Mas, rapaz, por que você não pergunta a ela o que acha de se apresentar depois do Alceu Valença, do Brasil?".

Filme

O gás de Alceu não arrefece com sua volta. É para 2013 que promete "A Luneta do Tempo", seu primeiro filme, do qual assina roteiro e direção. Suas ideias começaram há dez anos, quando lhe vieram os esboços da trama de amor que se passa no cangaço de violeiros e artistas circenses, inspirada em rimas de cordel e linguagem de repentistas. Conta a história de Rodrigo, um diretor que volta a São Bento do Una (terra do músico) para filmar a saga de Lampião, Maria Bonita, Severo Brilhante e seu bando contra Antero Tenente e seus soldados. Irandhir Santos aparece como Lampião, Hermila Guedes é Maria Bonita e Ceceu Valença, filho de Alceu, vive o mulherengo Nagib Mazola.

A mão de Alceu está na trilha sonora e em um texto que poderia sempre ser música. Sem saber que está no purgatório com Maria Bonita, Lampião se enfeza com a mulher que tenta convencê-lo de que ambos estão mortos. Magoada, ela se refugia em uma pedra alta e fica por lá, contemplando um fim de tarde inebriante com toda a sua tristeza. Lampião chega por trás e começa a cortejá-la: "Se o tempo tivesse a medida pequena de um dia de feira e tu não fosse a minha vida, eu cometia uma besteira. Voava daqui do lajedo nas asas leves do vento, matava cabo e sargento e virava o mundo todo do avesso. Mas confesso o meu segredo, do fundo do meu sentimento: sem você, morro de medo. Não te esqueço um só momento". Maria Bonita fica desconcertada. "Tu és o rei da poesia, Lampião". E ele devolve: "Ah Maria, deixe de besteira".

"Quero colocar o filme primeiro nos circuitos internacionais para depois trazê-lo ao Brasil, ainda em 2013", diz o músico. O longa, uma ficção, ganha tons biográficos quando reconduz o artista às origens de São Bento do Una. Pois foi lá que seu pai sentiu com agulhadas no peito que o moleque tinha mesmo um pé no palco. "Música era uma coisa proibida lá em casa".

Apesar de ter Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga subindo suas veias lado a lado com os genes do rock and roll setentista e de frevos, maracatus, choros e da música árabe que historicamente usa o baião como seu melhor hospedeiro no Brasil, Alceu diz ser um homem sem ídolos, inspirado por uma conversa de corredor que teve com Hermeto Pascoal. "Mas Hermeto, quem você ouve para se inspirar?". "Nada". "Por que não?". "Para não me influenciar".

Quando fica indignado, seus disparos atingem o programa The Voice, da Globo. "O Brasil precisa tomar vergonha na cara. Enquanto nossa taxa de desemprego é inferior à dos Estados Unidos e nossa economia se fortalece, as pessoas continuam indo para a televisão cantar soul music, fazer cópia de norte-americano. E eu te pergunto: Você acha que um dia vamos fazer soul music melhor do que os americanos?". O circuito que o Nordeste criou para alimentar seu show biz lhe dá vergonha. "Os donos das rádios são os mesmos donos das bandas de forró. Criam uma rede fechada para se apresentar e dizem fazer o que o povo gosta. E como é que o povo vai gostar de outra coisa?". Uma hora e trinta e cinco minutos depois, o repórter consegue fazer a quarta pergunta: "Você pode me mandar o roteiro do seu filme?". E Alceu, o homem que quer viver três anos em um, responde: "Não, rapaz, escreve aí que eu dito. Assim a gente continua conversando".

JULIO MARIAAGÊNCIA ESTADO
Diário do Nordeste

Os melhores filmes de 2012

O ano só não foi melhor em termos de qualidade porque ainda não chegaram por aqui as produções premiadas
O ano de 2012 foi um dos melhores dos últimos anos em termos de lançamentos de filmes. Estrearam nos cinemas de todo o Brasil 323 longas-metragens, sendo 84 deles nacionais. O ano só não foi melhor em termos de qualidade porque ainda não chegaram por aqui as premiadas produções, especialmente europeias, que ganharam destaque nos festivais internacionais no segundo semestre e por aqui só vão pintar em 2013.

"As Aventuras de Pi" encabeça a lista elaborada pelo crítico de cinema Pedro Martins Freire


Mesmo assim, foi uma temporada expressiva em termos de qualidade. Lamente-se que o cinema brasileiro tenha tido um péssimo primeiro semestre, quando nenhum de seus lançamentos obteve a atenção do público. Lamente-se que apenas quatro ou cinco filmes nacionais tenham conseguido ultrapassar a barreira de um milhão de espectadores e, mais ainda, que desses filmes, apenas "Gonzaga - de Pai Para Filho" e "Os Penetras" tivessem boa qualidade artística.

Para chegar à minha seleção dos melhores filmes do ano tive que deixar de fora obras importantes e que se destacaram no início do ano, como o francês "O Artista", de Michel Hazanavicius, e o estadunidense "Os Descendentes", de Alexander Payne. No meu entendimento, se constituíram em filmes que marcaram "aquele momento do Oscar", tendo sido superados por outras ao desenrolar da temporada. Não custa lembrar que a seleção dos melhores filmes de 2012 expressa a análise e visão pessoal do crítico de cinema. Na visão do cinéfilo, alguns filmes da lista podem não ter tanto importância assim, que pode ter ocorrido uma injustiça ou a omissão de um título, mas é justamente essa diferença do olhar que marca a diversidade do conhecimento humano - portanto, compreensível às escolhas de parte a parte.

A lista

Elegi "As Aventuras de Pi" (sobre o qual escrevo mais detalhadamente na página 3) como o melhor filme do ano porque a criação de Ang Lee trafega na formação da grandeza do ser humano na obtenção da "direção e o sentido" na busca da compreensão das coisas, do mundo e de si próprio. Lee fez um filme que embarca o espectador na história e o transforma em um observador dos fatos, nos quais história, realidade, imaginação, fantasia e fábula são mescladas e condensadas em um só elemento: a imagem. Promove também um avanço do cinema como arte da técnica e da imaginação do homem. Um filme de imagens deslumbrantes e poderosas, uma oferta de reflexão sobre a fé e espiritualidade, hoje tão desprezadas pelo mundo materialista.

Em segundo lugar, outra obra mágica, "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. Aqui, o cineasta trata literatura, cinema e teatro como instrumentos de criação humana. Nos fala também da arte como fábrica de sonhos, de agregação familiar, de registro das memórias e edificador da cultura de cada um de nós. E, diz Scorsese, através da cultura, podemos nos apaixonar por uma arte, admirar um artista e até impedi-lo de ser relegado à injustiça do esquecimento. O romeno Radu Mihaileanu constrói com "A Fonte das Mulheres" um dos mais belos filmes sobre a luta da mulher pelos seus direitos. Ambientado em uma aldeia de uma pequena comunidade islâmica do norte da África tendo por base um acontecimento real, o cineasta se utiliza do humor, da música e da dramaticidade para homenagear as guerreiras damas islâmicas que enfrentam o preconceito, o machismo e a imposição das tradições criadas para reduzir-lhes a participação e a importância na sociedade. É o terceiro da lista.

Em quarto lugar, "A Perseguição", de Joe Carnahan. Ao explorar a relação entre homem racional e natureza selvagem através da história de oito homens que empreendem uma jornada de sobrevivência em uma área habitada por lobos e por estes são perseguidos de forma implacável, o cineasta conduz a história na discussão filosófica que separa a natureza e a tentativa do homem em vencê-la. Resultado: um filme eletrizante.

"Shame", do britânico Steve McQueen, o quinto da lista, trata da ausência de amor e afeto nos tempos modernos. McQueen adentra ao âmago de um homem viciado em sexo e de lá extrai uma das exposições da amargura humana. Devassando a infelicidade de um homem, McQueen faz a exposição de uma Nova York caracteriza pelo mundano.

Em sexto, "Mãe e Filha", de Petrus Cariry. Ao rever a obra refiz alguns conceitos em relação à primeira visão, um ano atrás. Encontrei nessa criação radical que não se molda a linguagem tradicional da supressão do tempo e que ousa contar a história de conflito entre mulheres de épocas diferentes, uma grandeza similar a criadores como Brilhante Mendoza e Yasujiro Ozu.

O cineasta iraniano Asghar Farhadi faz de "A Separação" um compêndio de transgressões sem que faça uma execração de sua pátria. Detentor de um roteiro inteligentíssimo, usa a separação de um casal como metáfora para expor como o povo iraniano vive sob um surdo conflito com as leis islâmicas. "A Separação" engloba, em uma história tão complexa quanto o Irã, a busca aos ideais humanistas de direito e liberdade. É o sétimo da lista.

No oitavo lugar, outro sucesso do cinema internacional, o francês "Intocáveis", justamente por colocar o espectador frente a dois excluídos sociais na França atual, um deficiente físico e um negro, e convidá-lo a refletir sobre a condição humana e nas possibilidades da existência de felicidade na adversidade. Olivier Nakache e Eric Toledano conciliam não apenas o drama dos excluídos, mas a união de diferentes e a comédia da vida. Um filme realmente soberbo.

Coloco, em nono lugar, o nacional "À Beira do Caminho", de Breno Silveira. Com um roteiro de primeira qualidade, uma narrativa pontuada pela emoção e sublinhada pelas canções de Roberto Carlos, "À Beira do Caminho" é uma bela jornada pela redenção dos erros humanos tendo como tema central a paternidade. Um filme brilhante pela sua tristeza e um convite filosófico à reflexão.

Em décimo, "Argo", de Ben Affleck. Por trazer à tona, em uma narrativa eletrizante, a história de um inacreditável resgate de seis estadunidenses escondidos no Irã em meio à revolução política na passagem dos anos 70/80, "Argo" consagra a imaginação humana capaz de transformar a realidade em parâmetro de absurdo. Um filme notável.

Eleitos

1. AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, EUA, 2012), de Ang Lee
2. A INVENÇÃO DE HUGIO CABRET (Hugo, EUA, 2011), de Martin Scorsese
3. A FONTE DAS MULHERES (La Source Des Femmes, França-Bélgica-Itália, 2011), de Radu Mihaileanu
4. A PERSEGUIÇÃO (The Grey, EUA, 2011), de Joe Carnahan
5. SHAME (Shame, Reino Unido, 2011), de Steve McQueen
6. MÃE E FILHA (Brasil, 2012), de Petrus Cariry
7. A SEPARAÇÃO (Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011), de Asghar Farhadi
8. INTOCÁVEIS (Intouchables, França, 2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano.
9. À BEIRA DO CAMINHO (Brasil), de Breno Silveira
10. ARGO (Argo, EUA, 2012), de Ben Affleck.

PEDRO MARTINS FREIRECRÍTICO DE CINEMA
Diário do Nordeste

O silêncio não existe


Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista (Foto: ÉPOCA)Uma amiga me emprestou sua casa no meio do mato para eu escrever uma história. Eu andava acuada na cidade, atordoada com o excesso de barulho dentro e fora de mim. Às vezes tenho essa sensação, a de que a barreira do dentro e do fora se rompe e já não consigo distinguir se o ônibus cheio de som, fúria e fumaça preta sobe a Teodoro Sampaio ou sobe alguma rua que passa raspando pelo meu pulmão direito. Viro eu mesma um pedaço maltratado de São Paulo e preciso partir em busca de outras geografias que me curem o corpo. Eu pensava buscar silêncio, só para descobrir mais uma vez que o silêncio não existe.

É curiosa essa ilusão que compartilhamos de que o campo, o mato, a praia escondida, a natureza menos tocada são paisagens de silêncio. Nem o deserto é silencioso, descobri anos atrás, ao passar 20 dias na Mauritânia, acompanhando Toco Lenzi, um aventureiro que atravessava o Saara sozinho e a pé, puxando um riquixá. Ali descobri que o próprio silêncio não é silencioso. Ao contrário, a ausência de som rugia no meu ouvido num tom desconhecido. 

Perturbada por essa voz sem voz, eu lia sem parar à noite na minha barraca, quando lá fora a temperatura despencara dos mais de 40 graus do meio-dia para abaixo de zero. Lia histórias sobre as grandes expedições do passado porque a minha pequena aventura estava me assombrando. Eu não temia os beduínos que às vezes surgiam como que materializados da areia, nem os animais que deixavam marcas no acampamento pela manhã. Eu temia esse som que eu não decifrava, mas que falava com partes de mim que eu também não sabia onde moravam. 
Dois anos depois dessa experiência, passei dez dias num retiro de meditação vipássana, no interior do Rio de Janeiro, em que era proibido falar e até mesmo olhar para as outras pessoas. Aprendi a ouvir o meu lado de dentro e descobri que eu era tão silenciosa quanto uma lagoa habitada pela família inteira do Monstro do Lago Ness, incluindo primos distantes. Dias depois de ter voltado, eu ainda era despertada no meio da noite pelo barulho que continuava ressoando dentro de mim e que agora eu tinha aprendido a escutar. Levantava da cama e ia me postar diante do meu marido, notívago como um vampiro, que lia na poltrona. “Meu corpo não cala a boca”. Depois, com o tempo e o abandono da disciplina de meditação, perdi a capacidade de me ouvir e agora só escuto os roncos do meu estômago sempre esfomeado. 
Neste fim de ano, me enfiei no meio do mato em busca de silêncio. De novo. Eu precisava descobrir as palavras que nadavam em mim como peixes não muito dispostos a serem pescados, para contar uma história de ficção com prazo para entregar. Um grande escritor, não lembro qual, disse que as palavras são peixes que nadam no nosso lago inconsciente, mas eu tenho minhas dúvidas. Me parecem mais criaturas não nomeadas que rastejam no lodo de um fundo falso. Mas, seja o que forem as palavras, eu esperava atiçá-las com iscas de silêncio.

Logo ao chegar, experimentei o estranhamento de entrar em qualquer casa que pertença a um outro. É como um mapa que fala de caminhos que só fazem sentido para alguém que não está ali. Não falo apenas dos livros e dos CDs, dos móveis e da disposição dos objetos no banheiro ou da decoração, mas do que restou esquecido. É o esquecimento, mais do que a lembrança, que fala de nós. 

De imediato fui registrando as aranhas, muitas aranhas de tipos diferentes, que só extermino se chegarmos ao ponto do ou eu ou ela, o passarinho que fez ninho na janela do banheiro, as formigas carregando um besouro morto. Esse tipo de besouro tem a conformação física de um tanque de guerra e, ao voar, faz o barulho de uma Harley-Davidson. (Ouvi dizer que o ronco das Harleys é patenteado. Se não for mais uma lenda, devem royalties ao “rola-bosta”, o nome popular desse besouro.) Me identifico com ele, que está sempre caindo de costas, pernas pra cima. Me dá a impressão de que gasta a vida tentando virar do lado certo, ficar em pé, como eu também. 
E então... o vi. Um confete de carnaval entranhado no piso de cimento queimado. O que ele contava? Me enterneceu mais do que qualquer outra coisa aquele confete esquecido ali. A marca humana. Um carnaval, uma busca de felicidade, teria dado certo, teria sido alegre? E lá estava ele, um bailarino sem pernas. Caído ao final de um movimento.

Quando eu ainda vivia em Porto Alegre, uma leitora me enviou um álbum de fotografias que havia sido encontrado no lixo. Ela não pôde suportar a ideia de uma vida jogada fora, como se fosse uma casca de banana, e despachou o álbum envolto em papel-manteiga, para que eu desse um sentido à memória de um outro. Vi estranhos nascendo, crescendo, sumindo, casando, tendo filhos, envelhecendo. Na última página, a longa saga familiar se encerrava, sem explicação alguma, com a foto de duas coristas em pose sensual. Como a avisar que a vida é desacerto, como se dissesse: “Cuidado, não me entenda rápido demais”. Durante boa parte da minha vida, essa foi a minha frase preferida. Cuidado, não me entenda rápido demais. E era o que o confete parecia dizer, deslocado naquele ambiente. Eu sabia que, se ele falasse, falaria de mim, não de si mesmo, não de como havia restado ali.

Deixei-o e me sentei no lado de fora. Essa casa que falava comigo é quase orgânica, tem a postura de quem pede desculpas por estar ali. Só a enxerga quem chega perto da sua porta, porque tem a cor ocre da terra vermelha e as árvores a apertam. É uma casa quase natureza. Fico sempre tentando me enfiar na pele dos outros, para entender como se sentem e por que dizem o que dizem e fazem o que fazem. Mas desta vez fui compelida a tentar algo novo, ao olhar para as árvores e perceber que elas não estavam ali como um cenário. Aquelas árvores, cuja respiração eu acreditava ouvir, estavam ali possivelmente antes de mim e estarão para além de mim. Se uma delas pudesse me ver, o que veria? Qual seria a sua perspectiva?

Talvez a árvore me percebesse só como um relance, uma cor fugaz, como uma daquelas imagens que a gente faz rodar com muito mais velocidade para adiantar o filme no aparelho de DVD. Para nós ela é uma vida que se inscreve pela imobilidade. Mas não é, seu tempo é que é outro. Ela se move, mas não somos capazes de enxergar. Sem que antes tivéssemos nos encontrado, essa árvore tinha protagonizado um balé que ninguém viu. No meu nascimento seus galhos esboçavam um gesto, agora outro e, quando eu morrer, terão formado um quadro sutilmente diferente. Todo o meu álbum de fotografias cabe em apenas um de seus “pas de valse”. Ela, que é apenas um indivíduo, como eu. E como o besouro que bate a cabeça no tronco e vira de patas pro ar, abreviando suas chances de chegar vivo a 2013. Não há nenhuma hierarquia entre nós. Estamos todos os três apenas vivendo, tentando.

Mas eu escuto o silêncio da árvore e, ao deitar à noite para dormir, sei que a vida do mato é mais barulhenta que a minha esquina em São Paulo. Eu abro os olhos no escuro e há vaga-lumes no quarto. Eu tentando dormir e aqueles moços (ou seriam as moças?) acendendo o traseiro para atrair companhia. “Eu estou aqui!”, aviso, na tentativa de despertar alguma compostura, mas estão acesos. Me ignoram e continuam piscando sobre a minha cabeça: sexo, sexo, sexo. Bem perto, eu tenho certeza, alguma aranha tece a sua teia à espera de presas que serão devoradas lentamente. E logo ali uma fêmea de louva-a-deus pode estar mastigando o pai dos seus filhos e pensando, como no livro de Alessandro Boffa: “Hum... crocante, com fibras”. A sinfonia da natureza de que nos falam os poetas é uma orgia. Às vezes sangrenta.

Talvez eu não seja uma pescadora, afinal, mas uma aranha, tecendo uma armadilha para as palavras e depois mastigando-as com minha boca cheia de dentes. Eu posso ouvir que não há silêncio. O que buscamos, talvez, quando buscamos silêncio, é só a possibilidade de ouvir mais do mundo. Os sons, quando se repetem dia após dia, nos ensurdecem. E a primeira voz que deixamos de escutar é a nossa. Descubro na casa do mato que é da minha voz que tenho saudades na minha esquina de São Paulo, é ela que o ônibus da fumaça preta emudece quando sobe a rua.

Ser surdo a si mesmo é uma surdez sem nenhuma deficiência auditiva, mas muito, muito triste. O que chamamos de silêncio, afinal, talvez seja apenas a nossa voz.

Passo a vassoura sobre o confete. Cutuco um pouco para arrancá-lo dali. Ele não sai. 
(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)
Revista Época

Sancionada lei que reajusta salário de ministros do STF


STF (Foto: Divulgação/STF)A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que estabelece o reajuste, escalonado, para o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo dos próximos três anos. A elevação do subsídio aos ministros da Corte eleva, consequentemente, o teto de remuneração do serviço público.
A lei, aprovada pelo Senado Federal no último dia 18, foi sancionada sem vetos. A partir desta terça-feira (1), o salário dos ministros do STF passará de R$ 26.737,13 para R$ 28.059,29. O valor será elevado para R$ 29.462,25 a partir de 1º de janeiro de 2014 e chegará a R$ 30.935,36 no início de 2015. Isso representa um aumento escalonado de 15,7% no salário dos ministros.
A presidente também sancionou a lei que estabelece o reajuste do salário do Procurador-geral da República. Os valores são os mesmos definidos para os ministros do Supremo.
As duas leis, que foram publicadas na edição desta segunda-feira (31) do Diário Oficial da União, estabelecem que a partir de 2016, o valor mensal dos salários dos ministros do STF e do Procurador-geral da República será definido por lei de iniciativa do STF e da Procuradoria-Geral, seguindo os parâmetros fixados nas respectivas previsões orçamentárias. 
Revista Época

CLIMA DE FIM DO ANO É OPORTUNO PARA APARAR AS ARESTAS DA RELAÇÃO


Se existe algum mês em que as esperanças são renovadas, é dezembro. Quando vai acabando o ano, todos os sonhos parecem se encorpar e se juntar, criando um clima favorável à felicidade, ou pelo menos à crença de que ela existe. Mas, como escreveu o poeta português Luís de Camões(1524-1580), “jamais haverá um ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos”. Na vida amorosa, essa é uma verdade crucial. Por isso, casais, abram os olhos — e as mentes, os corações — e aproveitem estes dias de confraternização para se observar e ver o que podem fazer para tornar realmente novo o ano que se avizinha.
Um bom começo é identificar e corrigir os erros recorrentes da vida a dois. Para isso é necessário, antes de mais nada, que cada parceiro abandone a tão corriqueira postura do “eu estou sempre com a razão” e possa, assim, com tranquilidade, identificar os seus erros, assim como os do outro e os do casal. Se ambos conseguirem fazer isso, o casal já terá meio caminho andado para o fim dos conflitos.
Talvez você esteja se perguntando: “Mas por que fazer isso agora?” Porque nesta época os corações estão mesmo mais sensíveis e os desejos de mudança, mais genuínos. A postura de defesa é um jeito que muitas pessoas adotam para se esquivar da dor emocional — real ou imaginária. Elas se protegem do medo sentindo raiva, pois a raiva é uma emoção mais fácil de tolerar. Essa atitude, porém, entrava o autoconhecimento e impede quem a adota de assumir a sua parcela de responsabilidade na relação amorosa. A pessoa não precisa deixar de ser ela mesma para amar, ser amada ou reconquistar uma união que está se perdendo. Mas não custa nada: 
1. Ceder. Muitas vezes é saudável dar um passo atrás, para depois dar dois ou três à frente. Se os dois são sempre inflexíveis, o relacionamento acaba se emperrando.
2. Conversar. Se você me perguntasse quem é a pessoa mais bacana para se casar, eu diria que é aquela com a qual você gosta de conversar. Duas pessoas que conversam têm mais possibilidades de se entender.
3. Ouvir. O que o outro tem a dizer pode ser diferente do que o que você pensa que ele está pensando. Só através da escuta verdadeira é possível “zerar” certos mal-entendidos e atritos.
Só quem está disposto a ceder, conversar e ouvir pode empreender o que vou chamar aqui de “preparo para o novo ano”. Se você faz parte desse grupo, proponha à sua cara-metade listarem todas as características e atitudes que um admira no outro e conversem, em seguida, sobre quais dessas características e atitudes foram se perdendo com o tempo. Em seguida, listem o que mais os desagrada um no outro e que os leva, em alguns momentos, a pensar em desistir da relação. Pode acontecer de alguns pontos serem comuns aos dois.
Discutam, então, sobre o que pode ser mudado, adaptado ou abandonado de ambos os lados. Não estou propondo que um vá fazer só o que o outro quer para evitar conflitos, mas que ambos aprendam com os erros e acertos, para que possam crescer juntos e entrar em 2013 em sintonia. Gostou da sugestão? Então comece agora, não espere a virada do ano, porque, como ensina o poeta mineiro Carlos Drumond de Andrade (1902-1987), “é dentro de você que o Ano-Novo cochila e espera desde sempre”. 
UOL Notícias

Hillary Clinton ficará internada em hospital de Nova York por ao menos 48 horas


A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, foi internada neste domingo (30/12) no Hospital Presbiteriano de Nova York, depois que seus médicos, durante um exame de rotina, descobriram um coágulo em seu sangue.

Ao ser internada, Hillary, que tirou alguns dias de descanso por ter sofrido uma contusão depois de um desmaio no dia 15 de dezembro, passou a receber anticoagulantes.

A secretária de Estado permanecerá sob observação nas próximas 48 horas para avaliar sua reação ao tratamento e outros problemas médicos relacionados com a contusão que sofreu, afirmou o seu assessor Philippe Reines.

Hillary, de 65 anos, manteve um ritmo e uma agenda muito ativa de viagens ao exterior como chefe da diplomacia norte-americana. Tinha sofrido um desmaio no dia 15 de dezembro por causa de um problema estomacal que lhe causou desidratação e enfraquecimento.

Por causa desses problemas de saúde, Hillary cancelou suas viagens ao exterior e seu pronunciamento ao Congresso no qual debateria as circunstâncias do ataque terrorista contra o consulado dos EUA em Benghazi (Líbia), no dia 11 de setembro.

Apesar da reeleição do presidente Barack Obama em novembro, Hillary deixou claro que não continuará à frente do Departamento de Estado neste segundo mandato. Ela será substituída por John Kerry.

Também negou várias vezes ter interesse em se candidatar à Presidência do país em 2016. 

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26332/hillary+clinton+ficara+internada+em+hospital+de+nova+york+por+ao+menos+48+horas.shtml

Lei deve proibir ex-presidentes de disputar eleições, diz Sarney

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA


Um dos mais longevos políticos brasileiros, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defende uma mudança na lei para regular o comportamento de ex-presidentes da República. "Nós devíamos ter, no Brasil, uma legislação que não permitisse a nenhum ex-presidente da República que voltasse a qualquer cargo eletivo", sugere o político maranhense de 82 anos.
Sarney chegou à Câmara como deputado federal pelo Maranhão em 1955. Nunca mais saiu da política. Passaram-se já 57 anos. Foi presidente da República de 1985 a 1990. Em seguida, fez o que agora não recomenda aos demais: disputou e venceu, pelo Amapá, três eleições sucessivas para o Senado. Em 2015, quando termina seu atual mandato, terá completado 24 anos no Congresso.

Trechos da entrevista com José Sarney - 15 vídeos

Ex-presidente não pode disputar eleição (3:17)
José Sarney disse que Estado deveria pagar pensão, escritório, viagens e segurança para ex-ocupantes do cargo trabalharem pelo país.
Compartilhe este vídeo:

DICAS DE LEITURA


O Harém de Kadafi
Annick Cojean
De: 29,90
Por: 23,90
COMPRAR
Alexandre VI - Bórgia, o Papa Sinistro
Volker Reinhardt
De: 49,90
Por: 41,90
COMPRAR
Como Identificar um Psicopata
Jessica Fellowes e Kerry Daynes
De: 29,90
Por: 24,90
COMPRAR
A Caçada ao Outubro Vermelho (DVD)
John McTiernan (Diretor)
De: 19,90
Por: 12,90
COMPRAR
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...