segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os melhores filmes de 2012

O ano só não foi melhor em termos de qualidade porque ainda não chegaram por aqui as produções premiadas
O ano de 2012 foi um dos melhores dos últimos anos em termos de lançamentos de filmes. Estrearam nos cinemas de todo o Brasil 323 longas-metragens, sendo 84 deles nacionais. O ano só não foi melhor em termos de qualidade porque ainda não chegaram por aqui as premiadas produções, especialmente europeias, que ganharam destaque nos festivais internacionais no segundo semestre e por aqui só vão pintar em 2013.

"As Aventuras de Pi" encabeça a lista elaborada pelo crítico de cinema Pedro Martins Freire


Mesmo assim, foi uma temporada expressiva em termos de qualidade. Lamente-se que o cinema brasileiro tenha tido um péssimo primeiro semestre, quando nenhum de seus lançamentos obteve a atenção do público. Lamente-se que apenas quatro ou cinco filmes nacionais tenham conseguido ultrapassar a barreira de um milhão de espectadores e, mais ainda, que desses filmes, apenas "Gonzaga - de Pai Para Filho" e "Os Penetras" tivessem boa qualidade artística.

Para chegar à minha seleção dos melhores filmes do ano tive que deixar de fora obras importantes e que se destacaram no início do ano, como o francês "O Artista", de Michel Hazanavicius, e o estadunidense "Os Descendentes", de Alexander Payne. No meu entendimento, se constituíram em filmes que marcaram "aquele momento do Oscar", tendo sido superados por outras ao desenrolar da temporada. Não custa lembrar que a seleção dos melhores filmes de 2012 expressa a análise e visão pessoal do crítico de cinema. Na visão do cinéfilo, alguns filmes da lista podem não ter tanto importância assim, que pode ter ocorrido uma injustiça ou a omissão de um título, mas é justamente essa diferença do olhar que marca a diversidade do conhecimento humano - portanto, compreensível às escolhas de parte a parte.

A lista

Elegi "As Aventuras de Pi" (sobre o qual escrevo mais detalhadamente na página 3) como o melhor filme do ano porque a criação de Ang Lee trafega na formação da grandeza do ser humano na obtenção da "direção e o sentido" na busca da compreensão das coisas, do mundo e de si próprio. Lee fez um filme que embarca o espectador na história e o transforma em um observador dos fatos, nos quais história, realidade, imaginação, fantasia e fábula são mescladas e condensadas em um só elemento: a imagem. Promove também um avanço do cinema como arte da técnica e da imaginação do homem. Um filme de imagens deslumbrantes e poderosas, uma oferta de reflexão sobre a fé e espiritualidade, hoje tão desprezadas pelo mundo materialista.

Em segundo lugar, outra obra mágica, "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. Aqui, o cineasta trata literatura, cinema e teatro como instrumentos de criação humana. Nos fala também da arte como fábrica de sonhos, de agregação familiar, de registro das memórias e edificador da cultura de cada um de nós. E, diz Scorsese, através da cultura, podemos nos apaixonar por uma arte, admirar um artista e até impedi-lo de ser relegado à injustiça do esquecimento. O romeno Radu Mihaileanu constrói com "A Fonte das Mulheres" um dos mais belos filmes sobre a luta da mulher pelos seus direitos. Ambientado em uma aldeia de uma pequena comunidade islâmica do norte da África tendo por base um acontecimento real, o cineasta se utiliza do humor, da música e da dramaticidade para homenagear as guerreiras damas islâmicas que enfrentam o preconceito, o machismo e a imposição das tradições criadas para reduzir-lhes a participação e a importância na sociedade. É o terceiro da lista.

Em quarto lugar, "A Perseguição", de Joe Carnahan. Ao explorar a relação entre homem racional e natureza selvagem através da história de oito homens que empreendem uma jornada de sobrevivência em uma área habitada por lobos e por estes são perseguidos de forma implacável, o cineasta conduz a história na discussão filosófica que separa a natureza e a tentativa do homem em vencê-la. Resultado: um filme eletrizante.

"Shame", do britânico Steve McQueen, o quinto da lista, trata da ausência de amor e afeto nos tempos modernos. McQueen adentra ao âmago de um homem viciado em sexo e de lá extrai uma das exposições da amargura humana. Devassando a infelicidade de um homem, McQueen faz a exposição de uma Nova York caracteriza pelo mundano.

Em sexto, "Mãe e Filha", de Petrus Cariry. Ao rever a obra refiz alguns conceitos em relação à primeira visão, um ano atrás. Encontrei nessa criação radical que não se molda a linguagem tradicional da supressão do tempo e que ousa contar a história de conflito entre mulheres de épocas diferentes, uma grandeza similar a criadores como Brilhante Mendoza e Yasujiro Ozu.

O cineasta iraniano Asghar Farhadi faz de "A Separação" um compêndio de transgressões sem que faça uma execração de sua pátria. Detentor de um roteiro inteligentíssimo, usa a separação de um casal como metáfora para expor como o povo iraniano vive sob um surdo conflito com as leis islâmicas. "A Separação" engloba, em uma história tão complexa quanto o Irã, a busca aos ideais humanistas de direito e liberdade. É o sétimo da lista.

No oitavo lugar, outro sucesso do cinema internacional, o francês "Intocáveis", justamente por colocar o espectador frente a dois excluídos sociais na França atual, um deficiente físico e um negro, e convidá-lo a refletir sobre a condição humana e nas possibilidades da existência de felicidade na adversidade. Olivier Nakache e Eric Toledano conciliam não apenas o drama dos excluídos, mas a união de diferentes e a comédia da vida. Um filme realmente soberbo.

Coloco, em nono lugar, o nacional "À Beira do Caminho", de Breno Silveira. Com um roteiro de primeira qualidade, uma narrativa pontuada pela emoção e sublinhada pelas canções de Roberto Carlos, "À Beira do Caminho" é uma bela jornada pela redenção dos erros humanos tendo como tema central a paternidade. Um filme brilhante pela sua tristeza e um convite filosófico à reflexão.

Em décimo, "Argo", de Ben Affleck. Por trazer à tona, em uma narrativa eletrizante, a história de um inacreditável resgate de seis estadunidenses escondidos no Irã em meio à revolução política na passagem dos anos 70/80, "Argo" consagra a imaginação humana capaz de transformar a realidade em parâmetro de absurdo. Um filme notável.

Eleitos

1. AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, EUA, 2012), de Ang Lee
2. A INVENÇÃO DE HUGIO CABRET (Hugo, EUA, 2011), de Martin Scorsese
3. A FONTE DAS MULHERES (La Source Des Femmes, França-Bélgica-Itália, 2011), de Radu Mihaileanu
4. A PERSEGUIÇÃO (The Grey, EUA, 2011), de Joe Carnahan
5. SHAME (Shame, Reino Unido, 2011), de Steve McQueen
6. MÃE E FILHA (Brasil, 2012), de Petrus Cariry
7. A SEPARAÇÃO (Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011), de Asghar Farhadi
8. INTOCÁVEIS (Intouchables, França, 2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano.
9. À BEIRA DO CAMINHO (Brasil), de Breno Silveira
10. ARGO (Argo, EUA, 2012), de Ben Affleck.

PEDRO MARTINS FREIRECRÍTICO DE CINEMA
Diário do Nordeste

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