Grecianny
Cordeiro*
Há algum
tempo, espantada com a importância dada pela mídia a notícias ruins, escrevi um
artigo intitulado “desgraça dá ibope”, onde procurei abordar a ênfase conferida
aos dramas e às tragédias pelos noticiários televisivos, tendo por consequência
uma excelente audiência.
Há até
bem pouco tempo, os programas policiais eram vistos com certa reticência por
parte de um pequeno grupo de pessoas, a considerá-los de má qualidade, sempre a
abordar a desgraça alheia com uma simplicidade quase afrontosa.
E o pior, esses programas
policiais eram exibidos justamente nos horários das refeições, onde a família
costuma se reunir e travar um salutar diálogo, onde os pais procuram saber
acerca do dia a dia do filho, do trabalho, enfim...
O que hoje se constata é que todos os noticiários televisivos, sem
exceção, fazem a cobertura de matérias que relatam tragédias pessoais, crimes
bárbaros, praticados em situações inusitadas, assassinatos, mortes, chacinas, estelionato,
roubos, sequestros, estupros, tráfico de drogas...
E não importa o canal de televisão, o horário, nada, a matéria
preferencialmente enfocada tem como foco uma desgraça, seja ela qual for,
contanto que seja uma desgraça.
Antes, os pais estimulavam os filhos a assistirem aos telejornais para
se manterem atualizados, para saberem o que acontecia no mundo, num mundo onde
política, economia, cultura, cotidiano, eram abordados com singularidade, com o
objetivo de informar. E os pais acreditavam que, desse modo, os filhos não
ficariam alienados.
Hoje,
seja qual for o jornal televisivo, a maioria das matérias aborda algum tipo de
crime, alguma desgraça, seja ela qual for. Esses telejornais disputam a mesma
audiência dos programas policiais, para os quais ganham apenas no quesito
produção, maquiagem, qualidades das tomadas externas, etc.
E assim vamos levando a vida, apavorados com as desgraças de que o ser
humano é capaz, das infelicidades que pode provocar no seu semelhante, da dor
que pode infligir ao próximo. E assim vamos ficando descrentes, embrutecidos,
assustados, decepcionados, incapaz de acreditar na bondade, na decência, na
solidariedade, no amor... e nossa esperança vai se arrefecendo.
Sei que
desgraça dá ibope, mas será que poderíamos começar a pensar numa cultura de
paz, onde os meios de comunicação podem dar maior visibilidade ao belo, ao bom,
restituindo um pouco de nossa esperança no ser humano e num mundo melhor?
e-mail: grecianny@uol.com.br
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