Por Amaudson Ximenes*
A partir da primeira metade dos anos de 1990, é
crescente a quantidade de movimentos sociais organizados a partir da lógica das
redes sociais. Um dos mais expressivos, citados pelo cientista social catalão
Manuel Castels no livro “O Poder da Identidade”, foi o de Chiapas, no México,
tendo como principais ícones e ferramentas de mobilização social o
subcomandante Marcos e a internet que foram capazes de sensibilizar artistas,
músicos, a opinião publica para a opressão que vinham sofrendo do Governo e das
elites daquele país.
Nos anos 2000, com a mobilização e a consolidação
da internet no Brasil, grupos sociais, artistas, músicos passaram a se
comunicar com bastante frequência seja socializando e compartilhando músicas,
seja através de demandas advindas do segmento artístico cultural brasileiro.
Nesse período, questões como a da Ordem dos Músicos do Brasil, dos Direitos
Autorais, da difusão e distribuição da música de forma horizontal, consideradas
intocáveis e inquestionáveis por parte do poder constituído, começaram a ganhar
popularidade na mídia, nas listas de discussão e fóruns. Paralela a todas essas
transformações viria a eleição do Governo Lula, cujas demandas ganhariam espaço
dentro do Ministério da Cultura, da FUNARTE, através das Câmaras Setoriais.
No estado do Ceará, músicos, entidades e produtores
se mobilizaram através do Fórum de Música do Ceará, da Rede Ceará de Música e
da Rede Musicativa, a qual iremos dedicar uma maior atenção.
Nascida de discussões com o poder público
(Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da FUNCET) nos idos de 2007, foi
integrada à Associação Cultural Cearense do Rock, ONG movimento Pró-Cultura, ao
Festival Ponto.CE e ao selo musical Empire, todos com grande representatividade
no segmento musical voltado para o Rock alencarino. Na primeira edição, o
projeto circulou por Praças, Paço Municipal, espaços culturais como o Hey Ho
Rock Bar e Centro Solidário BOM Mix, bem como pelo saudoso Calçadão da ACR, no
Jacarecanga, que recebeu o projeto Sexta Rock e uma prévia do Festival
Ponto.Ce. O projeto movimentou mais de 60 grupos musicais com a programação
aberta ao público. Foi uma experiência pioneira, horizontalizada, funcionando a
partir da lógica das redes sociais.
O projeto teria um hiato entre os anos de 2008 a
2010, voltando a funcionar com mais agentes sociais em sua versão de 2011. Além
dos já citados acima, a Feira da Música de Fortaleza, viria a integrar a Rede
Musicativa em sua segunda edição. Além da programação gratuita e
descentralizada, a rede traria uma discussão bastante pertinente e atual, a
guerra contra o Crack. Com o lema “Crack tô Fora!” músicos e agentes culturais
se mobilizaram no sentido de contribuir e influir positivamente junto a
juventude local sobre os males que o crack provoca na sociedade, sobretudo nos
jovens. Além do mais, a circulação funcionou como prévia dos festivais ligados
às entidades e agentes envolvidos. Assim ForCaos, Rock Pró-Cultura, Feira da
Música de Fortaleza e Ponto.CE tiveram suas prévias inseridas na circulação
cultural promovida pela Rede Musicativa.
Na edição de 2012, outro agente importante da
cultura local passa a integrar a Rede Musicativa: o coletivo Panela Rock. A
programação descentralizada e gratuita, a campanha “Crack tô fora” são
iniciativas que caracterizam as ações da Rede. Em sua versão atual questões
como a ocupação de espaços públicos como o Estoril, realizada pela Casa Fora do
Eixo Nordeste e Feira da Música de Fortaleza, bem como ações ligadas ao esporte
e à valorização da memória cultural da cidade através da “1ª Bicicletada do
ForCaos” são atividades que passaram a contribuir para a ampliação e o
fortalecimento da lógica da cultura e dos movimentos sociais em rede.
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