Grecianny Carvalho Cordeiro*
As eleições se aproximam. É
incrível constatar como, a despeito do tempo, a despeito do amadurecimento da
democracia brasileira e do despertar de uma nova consciência do eleitorado,
pouca coisa mudou.
As campanhas políticas continuam as
mesmas. Muita pompa e ostentação para quem tem dinheiro, cartazes, banners, bandeiras, carreatas,
propagandas bem elaboradas. Para os candidatos com pouco dinheiro para gastar,
a campanha segue modesta e por isso mesmo quase não despertando a atenção do
eleitorado.
Muitos candidatos continuam os
mesmos; aqueles que pleiteiam novo mandato mostram-se desejosos de permanecer
em seus respectivos cargos eletivos; aqueles que nunca se elegeram continuam na
esperança de conseguir um mandato ou simplesmente se satisfazem em aparecer por
alguns segundos na televisão, talvez pela necessidade de não serem esquecidos,
embora cônscios de que nunca se elegerão. As propostas, então, são absurdas,
tolas e até visivelmente falaciosas.
Os eleitores também continuam os
mesmos, com exceção de alguns, já cientes da importância do voto, portanto, nada
dispostos a vender seu voto em troca de falsas promessas ou de qualquer tipo de
favorecimento. São eleitores que sabem o que querem e desejam uma ruptura com
aquilo que sempre representou o processo eleitoral: trocas de favores e de
interesses, onde o interesse público é esquecido, prevalecendo apenas o
interesse pessoal.
No entanto, muitos eleitores ainda
aguardam ansiosos as benesses que alguns candidatos têm a oferecer: um futuro
emprego, a ajuda a um parente necessitado, certa quantia em dinheiro, enfim, os
motivos são diversos. Claro que isso não aparece na propaganda eleitoral.
Causou surpresa uma reportagem
segundo a qual uma pesquisa atestava que apenas 5% dos eleitores disseram ter
votado em troca de favores ou algum benefício. Não se sabe aonde essa pesquisa
foi feita porque a realidade, principalmente em véspera e dia de eleição,
mostra exatamente o contrário, ou seja, muitos eleitores ainda esperam o
transporte do candidato que levará para o local de votação, o almoço, o lanche,
o vale, o dinheiro, a cesta básica, o medicamento, a promessa de emprego... O
mais incrível de tudo isso é a existência de uma blindagem a esse tipo de prática,
sendo muito difícil flagrar tais momentos, de modo a enquadrar os infratores
nos rigores da lei.
Ainda se ouve dizer que candidato
ganha eleição na véspera e no dia, quando as cédulas de R$2,00, R$5,00 e às
vezes R$10,00 correm soltas, comprando o eleitor da forma mais descarada
possível. E tão ruim quanto esse tipo de candidato é esse tipo de eleitor.
Muita coisa mudou, é verdade, mas
parece que certas coisas não mudam quem sabe um dia. Vamos acreditar.
*Promotora
de Justiça
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