Grecianny Carvalho Cordeiro*
“(...) de quantos lá vieram,
nenhum tem amor a esta terra (...) todos querem fazer em seu proveito, anda que
seja a custa da terra, porque esperam de se ir (...) não querem bem à terra,
pois têm sua afeição em Portugal; nem trabalham tanto para a favorecer, como
por se aproveitarem de qualquer maneira que puderem; isto é geral, posto que
entre eles haverá alguns fora desta regra”.
O
trecho acima transcrito, extraído do livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque
de Holanda, é de autoria do padre Manoel da Nóbrega e foi escrito no ano de
1552, todavia, o seu conteúdo permanece mais atual do que nunca, pelo que
poderíamos apenas mudar os protagonistas; no lugar dos portugueses,
colocaríamos uma expressiva quantidade dos homens públicos do País, em
especial, aqueles detentores de cargos eletivos.
Como
é cediço, a colonização portuguesa no Brasil tinha o nítido fim de explorar
nossas riquezas e enviá-las a Portugal, não havia um objetivo edificador, de
construção de uma nova nação.
Triste
perceber que as características constatadas por Sérgio Buarque de Holanda na
colonização portuguesa, tais como, a falta de hierarquia, o desleixo, a
indolência displicente das instituições e costumes, o espírito aventureiro, o
desejo de enriquecer mediante a exploração das riquezas e da mão-de-obra
escrava, a ociosidade enquanto símbolo de nobreza, ainda se encontram
enraizadas em nossa cultura, notadamente através da chamada “lei de Gérson”.
Mas
não vamos culpar os portugueses pelas nossas desgraças, afinal, cinco séculos
se passaram e pouco mudou em relação à influência lusitana nos nossos costumes
e instituições. É preciso mudar essa “tradição” e abandonarmos de vez a
mentalidade herdada de que a nossa terra deve ser apenas explorada, quando então
o Brasil se tornará verdadeiramente uma grandiosa nação.
*Promotora
de Justiça
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