sábado, 20 de outubro de 2012

Filme mostra a Armênia atual – e comove


Não sou crítica de cinema, mas quando um filme mexe comigo, faço questão de compartilhar com vocês. O filme da vez é o documentário Rapsódia Armênia, que estreia na semana que vem durante a 36° Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. O filme é um road movie diferente de tudo o que já vi. Imagens de rostos, músicas típicas e paisagens fortes ficam na memória, assim como as entrevistas com moradores da Armênia, pessoas simples mas muito verdadeiras.
Conversei com Gary Gananian, que produziu e dirigiu o filme ao lado de Cassiana Der Haroutiounian e Cesar Gananian. Confira abaixo a entrevista e o trailer do filme.
Mulher 7×7: A viagem para fazer o filme foi a sua primeira para a Armênia?
Gary Gananian: Não, foi minha segunda. Eu fui a primeira vez em 2007, para participar de um evento esportivo que acontece de quatro em quatro anos. Foi totalmente diferente, porque só visitei as cidades turísticas e armênios de todo o mundo participaram da competição. Da segunda vez, quando fiz o documentário, conheci pessoas incríveis de lá mesmo, e viajei para o interior, em cidades pequenas. Este ano voltei mais uma vez, porque o filme foi parte de um festival de cinema. (O filme foi premiado em duas categorias no Golden Apricot Film Festival de Erevan, na Armênia).

Mulher 7×7: Você já convivia com a comunidade da Armênia no Brasil?
Gary: Eu frequento os eventos da comunidade há uns quinze anos. Participo de atividades sociais, culturais, e jogo bola pelo clube armênio. Eu e a Cassiana (Na foto ao lado, com Gary durante as filmagens) nos conhecemos na comunidade, bastante tempo atrás. Na minha casa aprendi a falar armênio quando criança. A minha mãe falava comigo, e acostumei. Só não sei ler e escrever, porque o alfabeto é diferente.

Mulher 7×7: De onde veio a ideia de fazer o filme?
Gary:Eu e a Cassiana sempre tivemos vontade de fazer um projeto juntos. Eu estudei comunicação e ela é fotógrafa e editora de fotografia de uma revista. Uma vez ela foi para a Armênia fazer uma matéria para um jornal, e a comunidade no Brasil gostou muito. Ela ganhou respaldo, e tivemos a ideia de fazer o filme.

Mulher 7×7: Quais foram os maiores desafios da viagem?
Gary:Foi meu primeiro trabalho profissional em cinema, embora antes eu tenha trabalhado em uma produtora. Fizemos tudo na cara e na coragem. Aprendemos a fazer a captação de som no lugar em que alugamos o equipamento.
Ficamos vinte dias lá, e trouxemos vinte horas de material bruto. Tivemos que reduzir tudo para 63 minutos, então deu muito trabalho. Quem montou foi o meu primo, César, que co-dirigiu, apesar de não ter participado da viagem. Para a pesquisa musical, contratamos um músico chamado Alexandre Moura. Ele conseguiu incluir desde o reggae armênio até bolero e música erudita.

Mulher 7×7: A trilha sonora do filme e as imagens parecem ocupar um papel mais central que as falas e entrevistas. Qual foi o motivo dessa decisão?
Gary:Quisemos que o filme tivesse uma estética mais apurada. A música também tinha que estar presente no filme, pois é uma parte muito importante da cultura de lá. A ideia não era fazer um filme didático, como em uma aula. A gente queria explorar os sentidos e os sentimentos.

Mulher 7×7: Vocês já conheciam as pessoas que aparecem no filme antes de viajar?
Gary:A maior parte não. Um dos entrevistados é avô da guia que usamos. Quando já estávamos lá, ela disse que seu avô era veterano de guerra, e decidimos entrevistar. No prédio dele vimos uma porta aberta, entramos e conhecemos outra personagem, que morava lá. Abordamos muita gente na rua, perguntando se poderiam falar conosco. Fizemos isso com quem chamava nossa atenção, e foram muito receptivos. Era emocionante como nos recebiam em suas casas. A gente nem tinha hora marcada, batíamos na porta, explicávamos o nosso projeto. Eles nos recebiam, serviam café, conhaque, não queriam mais deixar a gente ir embora!

Mulher 7×7: Por que falam pouco do massacre no filme?
Gary:A gente quis mostrar a Armênia atual. Não quisemos falar sobre o genocídio por medo de parecer tendencioso, ou deixar o documentário didático demais. Ele surgiu em alguns trechos do filme porque o tema ainda é muito presente, mesmo depois de cem anos. A gente queria mostrar o ser humano a partir do contexto do país.

Mulher 7×7: Qual é a história de sua família?
Gary:Os meus avôs saíram da Armênia fugindo do genocídio, que aconteceu no começo do século 20, com o Império Otomano. Eles moravam em uma região que hoje em dia faz parte da Turquia. O pai da minha mãe e o pai do meu pai são primos. O pai da minha mãe foi para o México, e o do meu pai para o Brasil. Eles vieram para sobreviver. Muita gente que ficou morreu.

Mulher 7×7: Um dos entrevistados no filme diz que a colônia brasileira está muito distante da Armênia. Você concorda?
Gary:Entendo o que ele diz, porque já estamos na segunda geração de armênios no Brasil e uma minoria fala a língua ou é engajada na comunidade. Mas por outro lado me parece que há uma renovação entre os jovens, uma vontade de buscar suas origens. Acho que isso está acontecendo aos poucos.

Assista abaixo o trailer do filme:
Gostou? Confira os locais de exibição:
ESTREIA
Local: Espaço Itaú de Cinema – R. Augusta, 1475 – São Paulo, SP
Data: 22/10/12
Horário: 20h00
DEMAIS SESSÕES
Local: Espaço Itaú de Cinema – R. Augusta, 1475 – São Paulo, SP
Data: 24/10/12
Horário: 14h00
Local: Cinusp- Rua do Anfiteatro, 181 São Paulo, SP
Data: 25/10/12
Horário: 19h00
Margarida Telles é repórter de ÉPOCA em São Paulo.
Leia o Blog completo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...