sábado, 27 de outubro de 2012

Aliança da direita acirra disputa eleitoral em Israel


O premiê israelense, Benjamin Netanyahu (à direita), e o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, se cumprimentam em um hotel em Jerusalém. Os dois firmaram uma aliança entre seus partidos, o Likud e o Israel Beiteinu (Foto: (AP Photo/Bernat Armangue))Uma nova aliança, capaz de alterar o destino das eleições parlamentares de Israel, previstas para 22 de janeiro de 2013, chacoalhou a política do país. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido de centro-direita Likud, fechou um acordo com o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, líder do ultradireitista Israel Beiteinu. Dos 120 deputados do Parlamento israelense (Knesset), o Likud tem 27, e o Israel Beiteinu, 15. “Israel necessita de uma coalizão forte”, disse Netanyahu, ao anunciar o acordo. “É preciso fortalecer o país diante dos desafios à segurança de Israel, como o armamento nuclear iraniano."
Na prática, os dois partidos se fundem com o objetivo de formar uma lista conjunta para as eleições. Surge uma ampla frente conservadora, com tendências muito mais linha-dura quanto a temas centrais no Oriente Médio, como as instalações nucleares do Irã e a criação do Estado Palestino. Analistas israelenses acreditam que a nova legenda, cujo nome deve ser Likud-Beiteinu, possa obter mais de 40 cadeiras na Knesset. No sistema político de Israel, o líder do partido com mais assentos no Parlamento geralmente é escolhido primeiro-ministro – mesmo que não tenha mais da metade dos parlamentares.
As próximas eleições serão uma espécie de plebiscito. Segundo uma pesquisa feita em agosto pelo jornal Jerusalem Post, 43% dos israelenses apoiam uma ofensiva militar contra o Irã, e 40% a consideram imprudente. Em outra pesquisa, feita pelo jornal Haaretz na semana passada, 74% dos entrevistados apoiaram um regime de separação entre israelenses e palestinos em caso de anexação da Cisjordânia por Israel. Nesse cenário, Netanyahu leva ampla vantagem sobre os concorrentes. Em pesquisa eleitoral feita no começo de outubro, ele teve o apoio de 57% dos eleitores – mais do que o dobro de seu concorrente mais próximo, a ex-jornalista Shelly Yachimovich, líder do Partido Trabalhista. “Netanyahu é o único líder no horizonte, não há outra figura na cena política de Israel que se iguale a ele em experiência, capacidade e clareza de opiniões”, escreveu a cientista política Tamar Hermann, da Universidade Aberta de Israel, em um artigo no Haaretz. “Aproximar-se de um linha-dura só fará bem para sua imagem de estadista firme neste momento.”
Mais do que Netanyahu, o polêmico chanceler Avigdor Lieberman ganha força com a união. Ele será o número dois do partido e poderá ser nomeado ministro da Defesa de Israel, o cargo mais importante no país depois do primeiro-ministro. Hoje, quem está no cargo é o ex-premiê israelense Ehud Barak. No começo de 2011, Barak deixou o Partido Trabalhista para continuar no cargo depois que os trabalhistas abandonaram a coalizão governista.
Lieberman é conhecido por suas posições antiárabes – em 2004, afirmou que os mais de 1,2 milhão de árabes vivendo em Israel deveriam “pegar suas coisas e ir embora do país”. Militante da direita ultranacionalista desde a adolescência, Lieberman nasceu em 1958 em Moldova, uma antiga república soviética. Emigrou para Israel aos 20 anos, pouco antes de passar a militar no Likud. Em 1999, fundou o Israel Beiteinu, por discordar das políticas do Likud, que considerava moderadas. Lieberman e Netanyahu voltam a se aproximar não apenas por uma conveniência eleitoral, mas como forma de combater o crescimento do Partido Trabalhista, que pode ganhar mais de 20 cadeiras no Parlamento, segundo as últimas pesquisas. Outra preocupação da dupla é a possibilidade da volta à política de Ehud Olmert, ex-premiê de Israel entre 2006 e 2009, e de Tzipi Livni, ex-líder do partido de centro Kadima. “Foi o medo que jogou Netanyahu e Lieberman nos braços um do outro”, escreveu Yossi Verter, analista político do jornal Haaretz
A movimentação política de Netanyahu pode ter efeitos colaterais. Um deles é a possível rejeição de parte do eleitorado à aliança. “Unificar listas geralmente as faz encolher", diz Nahum Barnea, comentarista política do Yedioth Ahronoth, jornal mais vendido do país. “Qualquer um que não tolerava Lieberman e votava em Netanyahu pensará duas vezes; e o mesmo é verdade para aqueles que não toleram Netanyahu e votavam em Lieberman.” A esquerda tenta encampar esse discurso. “Todas as forças sensatas que votam no Likud devem rever seu voto depois dessa junção”, disse a trabalhista Shelly Yachimovich. “O premiê levou o Likud para a direita ao se juntar a um partido radical e racista.”
O cientista político Avraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, não acredita em grandes turbulências no quadro político geral a partir do acordo anunciado pelo premiê. “O equilíbrio entre os blocos de esquerda e direita continuará mais ou menos o mesmo, não há um movimento real de mudança”, escreveu Diskin. Mesmo se não houver tal terremoto, Netanyahu espera que sua aposta dê resultados em janeiro. Com a aliança, ele aposta no conservadorismo do eleitorado israelense, ao reforçar as divisões entre direita e esquerda no país. Isso, acredita o primeiro-ministro, pode lhe dar a vitória e o apoio político de que precisa para lidar com palestinos, iranianos e um possível segundo governo de Barack Obama.
Revista Época

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