terça-feira, 2 de outubro de 2012

Chega ao Brasil escola com enfoque na prática de esportes


Quem vê Thaís Farias, uma menina franzina de 12 anos, custa imaginá-la defendendo o Brasil em competições internacionais. Basta ela pular na água para entender o otimismo de seus treinadores. A menina de maiô rosa se destaca na piscina e alcança meninos dois anos mais velhos. Fã de César Cielo e de matemática, Thaís começou a nadar aos 5 anos. Hoje, treina de segunda a sexta-feira e sonha em participar da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. “Ganhar uma medalha? Vou ganhar várias!”, diz. Thaís está entre os 350 alunos atletas do Ginásio Experimental Olímpico (GEO), no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. A proposta do GEO, inaugurado pelo município no início do ano, é manter os estudantes no colégio de 7h30 às 17 horas. Eles dividem o tempo entre salas de aula e práticas de esporte (atletismo, futebol, natação, tênis de mesa, judô, handebol, vôlei e xadrez). “Os Jogos de 2016 são um bom pretexto”, diz a secretária municipal de Educação do Rio, Cláudia Costin, responsável pelo projeto. O diretor da escola, José Edmilson da Silva, afirma que o objetivo do GEO não é se tornar um centro de formação de atletas de elite. “Queremos que os alunos possam seguir carreiras ligadas ao esporte, como educação física ou fisioterapia.”
Thaís Farias,  na piscina de sua escola municipal. A experiência do Rio segue modelos internacionais  de  ensino com ênfase no esporte  (Foto: Pedro Farina/ÉPOCA)
Thaís Farias, na piscina de sua escola municipal.
A experiência do Rio segue modelos
internacionais de ensino com ênfase no esporte 
(Foto: Pedro Farina/ÉPOCA)
Experiência inovadora em escolas públicas brasileiras, o GEO segue um modelo tradicional no exterior. Há mais de 30 anos, Estados Unidos, Canadá, Cuba e Cingapura dão aos exercícios físicos tanta atenção quanto ao ensino nas salas de aula. Os entusiastas da ideia afirmam que o esporte, em vez de desviar a atenção do aluno, melhora o aprendizado. Neste ano, a Universidade de Vrije, na Holanda, analisou mais de 12 mil estudantes. Concluiu que o esporte aumenta a oxigenação no cérebro e favorece o raciocínio. “Crianças que aprendem a participar no esporte também aprendem a obedecer a regras”, afirma Amika Singh, uma das autoras do estudo. “Elas se tornam mais disciplinadas e se concentram com mais facilidade.”
Os pedagogos são quase unânimes em reconhecer as vantagens do esporte no aprendizado. As opiniões divergem, contudo, quanto à prioridade de apostar nesse modelo. Para montar o GEO, a prefeitura do Rio investiu mais de R$ 10 milhões e contou com doações. O gasto mensal médio por aluno é de R$ 700, quase o dobro dos R$ 359 investidos nas escolas convencionais do município. “É absurdo beneficiar uma minoria”, diz Marcos Neira, professor de Metodologia do Ensino de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP).
“Excelência esportiva não é função de um colégio.” Ex-ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) faz restrições à atividade física como único investimento fora do currículo obrigatório. “Temo que, com a proximidade da Olimpíada no Brasil, a gente queira fazer escolas com ênfase só no esporte”, afirma. “Até a escolinha de futebol do Barcelona exige de seus atletas o aprendizado de cultura.”

Um estudo da Universidade Durham, na Inglaterra, comparou custos e resultados de diferentes iniciativas para melhorar o aprendizado. “Enfatizar esportes” foi considerada uma estratégia de custo e eficiência moderados. A iniciativa mais barata e eficiente, conclui o estudo, é dedicar mais atenção a cada aluno. Os resultados da pesquisa britânica são aplicáveis ao Brasil, mas com ressalvas. Num país de população mais pobre, como o Brasil, o modelo do GEO traz vantagens interessantes. Além de manter o jovem longe das ruas e do crime, a escola com ênfase no esporte oferece duas oportunidades de ascensão social. Talvez Thaís Farias não vire uma nadadora de elite no futuro. Se isso não acontecer, ao menos ela poderá contar com uma boa formação escolar para seguir outro caminho.

Revista Época

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