Acordei ontem e, como é de costume, dei uma olhada no Twitter, que, como dizem por aí, é minha fonte primária de informação. Entre notícias internacionais e ecos dos tuiteiros da madrugada, uma pergunta retuitada por um amigo me chamou a atenção:
A criança que você era teria orgulho do que você é hoje?
Não sei se foi o sono extremo – acordo antes das seis -, os balanços que tenho feito ultimamente ou simplesmente a força da pergunta, mas me peguei o dia todo pensando nisso.
A gente vai vivendo, vivendo, boa parte da vida numa correria danada, que mal dá tempo pra pensar na nossa linha do tempo. Essas conexões entre passado e presente ficam meio sem liga, soltas no ar. Parece que fomos vários. Mas a verdade é que fomos – somos – um só.
O fato é que não consigo lembrar bem o que a criança que eu fui pensava que seria no futuro. Acho que normalmente as pessoas almejam o básico: um lindo amor, uma casa bacana, uma profissão que nos faça feliz, amigos em volta. Se era isso que eu pensava, acho a criança que eu fui se orgulharia de mim hoje.
Saindo do básico, porém, será que a criança que eu fui talvez não pensasse em algo mais? Um incrível feito, um ato heroico, uma atitude que mudasse o mundo? Crianças são assim. Eu fui assim: na minha mente moravam muitos personagens, gente que dialogava comigo dia e noite, com quem eu compartilhava acontecimentos mágicos ou simplesmente corriqueiros. Tenho a impressão de que aquela menina jamais se imaginaria, no futuro, numa existência banal, por melhor que fosse.
Então era isso que eu pensava, o dia todo, enquanto procurava, na minha história, aquilo de que a menina se orgulhasse. Confesso que eu estava quase desistindo. Ter mergulhado com tubarões no Taiti ou voado de ultraleve sobre as dunas de Natal não se pareciam nada com o que eu creio que ela, a criança, tivesse em mente.
Mas, de repente, uma luz se acendeu. E eu descobri aquilo que faz a menina que eu fui se orgulhar de quem eu sou.
Lá no fundo (e muitas vezes nem tanto), eu nunca deixei de ser criança.
Revista Época
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