segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Hebe Camargo


Grecianny Carvalho Cordeiro*

Embora quase nunca tivesse assistido ao seu programa, isso não me impediu de admirar essa mulher que sempre fez parte da história da televisão brasileira, entretendo o público, um público fiel e apaixonado.

Hebe Camargo era mais que uma apresentadora de televisão, ela esbanjava alegria e irreverência, muitas vezes chegando ao ponto de cair no ridículo, o que definitivamente não retirava o seu brilho.

O fato é que, como toda mortal, Hebe Camargo encerrou a sua existência material nesse plano - uma maneira sutil de dizer a morte sem adentrar na seara das religiões -. E como era de se esperar, o clamor foi grande, a comoção foi enorme. Sua morte teve a repercussão esperada para uma mulher midiática e querida.

No entanto, das manifestações de carinho e respeito recebidas por Hebe Camargo, a que mais me chamou a atenção foi o beijo de despedida do apresentador Silvio Santos, dando-lhe o "selinho", sua marca registrada.

O "selinho" de Silvio Santos decerto não teve o condão de despertá-la, a exemplo do príncipe encantado na história da Branca de Neve, mas teve um simbolismo marcante: gratidão, carinho, amor sincero, reverência, respeito... sentimentos nobres hoje tão em desuso.

Fico pensando nas pessoas - mesmo as mais amadas - a quem teria a "coragem" de curvar-me no caixão e beijá-la de tal modo, cruzando a barreira da vida e da morte, do transitório para o eterno, do humano para o divino.

A morte, um fenômeno que sempre causou curiosidade no homem, desde os primórdios, levou-o a especular sobre a vida e sobre o que viria depois. Um mistério que ainda hoje assusta e fascina.

Nas palavras de Fustel de Coulanges, no clássico Cidade Antiga, "foi talvez diante da morte que o homem, pela primeira vez, teve a ideia do sobrenatural e quis abarcar mais do que seus olhos humanos podiam lhe mostrar. A morte foi pois seu primeiro mistério, colocando-o no caminho de outros mistérios. Elevou seu pensamento do visível para o invisível, do transitório para o eterno, do humano para o divino."

A morte é a coisa mais certa de nossa existência, mas "ninguém quer a morte, só saúde e sorte".

*Promotora de Justiça

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