Grecianny Carvalho Cordeiro*
“Estou
num mundo em que fazer o mal é quase sempre louvável, fazer o bem muitas vezes,
é considerado loucura perigosa”, Dizia Shakespeare em Macbeth.
A atualidade da frase acima é
impressionante. É quando percebemos o quanto a tecnologia, as facilidades –
muitas delas maravilhosas – do mundo moderno nos tem distanciado do ser humano,
tanto assim é verdade que nunca se falou tanto em humanismo, em tratamento
humanizado e coisas parecidas nos diversos ramos das mais diversas profissões.
Costumamos falar mais do que mais carecemos. Ou não?
Hoje em dia, baixar o vidro do carro
para dar esmola (é perigoso), colocar um pedinte de comida dentro de casa para
dar água e comida (gesto de loucura, insanidade absoluta), parar o carro no
meio da rua para ajudar alguém que teve o carro quebrado (risco de ser um
assalto), dar dinheiro para alguém que pede ajuda para comprar um remédio para
o filho doente (certamente será para comprar droga)...
Parece que estamos esperando do
próximo sempre o pior. Um gesto de generosidade, de delicadeza para com o outro
é visto com desconfiança, com alarde até. E nos pegamos pensando: “fulano está planejando alguma coisa” ou
“essa alma quer reza”.
Em
Macbeth, Shakespeare retratou a face mais vergonhosa do ser humano: a ganância,
a luta desmedida pelo poder, a traição, o homicídio, a dissimulação. Macbeth
tramou e executou a morte do rei, de nobres e de seus familiares destinados à
sucessão, de modo a que lhe fosse garantido o trono. Mas também mostrou o preço
dessas escolhas: a falta de paz de espírito, os conflitos internos, o peso na
consciência a atormentar uma existência tranquila e feliz.
Talvez se nos desarmássemos mais
diante do próximo.
Talvez se não cobrássemos demais,
inclusive, aquilo que somos incapazes de dar.
Talvez se começássemos a acreditar
um pouco mais nas pessoas.
Talvez...
*Promotora de Justiça
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