Grecianny
Carvalho Cordeiro*
Embora quase nunca tivesse assistido ao seu programa,
isso não me impediu de admirar essa mulher que sempre fez parte da história da
televisão brasileira, entretendo o público, um público fiel e apaixonado.
Hebe Camargo era mais que uma apresentadora de
televisão, ela esbanjava alegria e irreverência, muitas vezes chegando ao ponto
de cair no ridículo, o que definitivamente não retirava o seu brilho.
O fato é que, como toda mortal, Hebe Camargo encerrou
a sua existência material nesse plano - uma maneira sutil de dizer a morte sem
adentrar na seara das religiões -. E como era de se esperar, o clamor foi
grande, a comoção foi enorme. Sua morte teve a repercussão esperada para uma
mulher midiática e querida.
No entanto, das manifestações de carinho e respeito recebidas
por Hebe Camargo, a que mais me chamou a atenção foi o beijo de despedida do
apresentador Silvio Santos, dando-lhe o "selinho", sua marca
registrada.
O "selinho" de Silvio Santos decerto não
teve o condão de despertá-la, a exemplo do príncipe encantado na história da
Branca de Neve, mas teve um simbolismo marcante: gratidão, carinho, amor sincero,
reverência, respeito... sentimentos nobres hoje tão em desuso.
Fico pensando nas pessoas - mesmo as mais amadas - a
quem teria a "coragem" de curvar-me no caixão e beijá-la de tal modo,
cruzando a barreira da vida e da morte, do transitório para o eterno, do humano
para o divino.
A morte, um fenômeno que sempre causou curiosidade no
homem, desde os primórdios, levou-o a especular sobre a vida e sobre o que
viria depois. Um mistério que ainda hoje assusta e fascina.
Nas palavras de Fustel de Coulanges, no clássico
Cidade Antiga, "foi talvez diante da morte que o homem, pela primeira vez,
teve a ideia do sobrenatural e quis abarcar mais do que seus olhos humanos
podiam lhe mostrar. A morte foi pois seu primeiro mistério, colocando-o no
caminho de outros mistérios. Elevou seu pensamento do visível para o invisível,
do transitório para o eterno, do humano para o divino."
A morte é a coisa mais certa de nossa existência, mas
"ninguém quer a morte, só saúde e sorte".
*Promotora de
Justiça
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