Por Cely Fraga
Editora
A região íntima da mulher sempre foi um assunto delicado. Nos últimos tempos, porém, ela ganhou novos contornos. Continua íntima, mas não tão pessoal assim. Embora o corpo feminino seja cultuado de várias formas e, até mesmo supliciado – com malhações intensas e cirurgias estéticas - para seguir determinados padrões de beleza, a intimidade da mulher ainda é, de certa maneira, cerceada pelo manto do tabu. Agora, no entanto, ela prova, aos poucos, outro tipo de liberdade. A vagina está em alta no universo da cirurgia plástica. E essa não é uma onda apenas nacional, mas, aparentemente, mundial.
Segundo a Folha de S. Paulo, numa recente publicação, mais de 1,5 milhão de cirurgias íntimas são realizadas nos EUA. No Reino Unido, 1,2 milhão. No Brasil, médicos apontam um crescimento de 50% nos últimos dois anos. Um grande avanço para quem até ontem era tema de assuntos proibidos.
Mas, o que mudou? Por que as mulheres perderam a vergonha e estão correndo atrás de reparar algo que não é exibível como uma barriga sarada, por exemplo? De acordo com o especialista em cirurgia plástica, Elizeu Lavor, a pessoa só busca aquilo que conhece. “Só sentimos necessidade do que sabemos que existe! Acho que este deve ser o motivo número um do aumento da procura atualmente: informação. Em um passado recente (e mesmo nos dias de hoje), muitas mulheres, por exemplo, poderiam sentir-se desconfortáveis com a hipertofia dos pequenos lábios, com constrangimento e mesmo dor durante relações sexuais, mas tinha que se conformar por desconhecer soluções”, analisou dr. Lavor.
Ainda segundo ele, outros motivos podem ser apontados, tais como: exposição mais frequente em trajes “colantes” em praias, piscinas, academias; a busca por um autoconhecimento maior do próprio corpo e a possibilidade de comparação com “padrões” em revistas e internet; uso de anabolizantes e hipertrorfia clitoriana; e a tendência de valorizar a depilação nessas áreas, levando a uma maior exposição da anatomia.
INTIMIDADE EXPOSTA
Ser mulher, desde a origem do mundo, sempre foi um mistério. Compreender todas as nuanças do corpo e mente feminino era um enigma, muitas vezes, sem solução. Desta forma, construiu-se uma aura que precisava ser resguardada, ou seja, se é “coisa de mulher”, tem que ser tratada e discutida minimamente, se possível nas entrelinhas.
Assim, os tabus foram sendo criados. Conversar sobre as “obrigações conjugais” apenas de maneira superficial e, somente com mulheres na mesma situação. A menstruação então, quase um palavrão. Gravidez, insatisfação sexual e até violência doméstica são tópicos que, ao longo dos tempos, foram colocados na pasta da intimidade. Falar de assuntos femininos, quaisquer que fossem, era terminantemente proibido. Hoje, praticamente não existe uma faceta do universo da mulher que já não tenha sido esmiuçada por publicações do gênero.
O mundo mudou e continua mudando. A vida privada tornou-se pública. Novos tempos, novos comportamentos! Neste gancho de evolução, mulheres assumiram o comando do barco e reescreveram suas histórias. Entre inúmeras conquistas, a chance de expor e discutir seus temores e desejos.
No caso das intervenções íntimas, contudo, as mulheres deixam a vergonha de lado apenas dentro do consultório. Elas estão fazendo correções e até remodelando a vagina, porém, o assunto ainda não foi parar na sala de estar, o que parece uma incongruência diante da Era do Facebook, onde a vida privada se confunde com exposição. “A cirurgia íntima enfrenta algumas barreiras, pois não é algo que quem fez saia divulgando. Atualmente, é normal quem pensa em pôr uma prótese de silicone começar a divulgar para as amigas, enquanto a cirurgia íntima não. É um segredo guardado a sete chaves, muitas vezes nem sequer o marido sabe”, comenta dr. Elizeu Lavor.
“Isso é puro preconceito”, reflete a produtora Adriana Pessoa. Ela afirma que se sentisse de alguma forma incomodada com sua anatomia faria a cirurgia. “Não vejo problema nisso. É a mesma coisa de fazer plástica no rosto. Se alguém faz, é por que não está satisfeita com o que vê no espelho. O mesmo princípio é aplicado na região íntima, se tem algo que incomoda, se tem uma cirurgia que ajeita e se você tem dinheiro para isso, por que não fazer? Eu faria, sem preconceito algum”, defende Adriana.
PADRÃO DE BELEZA ÍNTIMO. EXISTE?
Muitas cirurgias plásticas são procuradas porque os pacientes estão em busca de um padrão. No entanto, como determinar o modelo ideal de uma vagina? A sociedade contemporânea é muito preocupada com estereótipos de beleza, é verdade, mas estabelecer o ideal estético da anatomia feminina não seria um exagero? Em contrapartida, não seria também excesso toda e qualquer padronização de beleza?
“Com a quantidade de revistas, filmes e internet expondo, em detalhes, a anatomia feminina, quem ‘sente’ que tem alguma coisa incomodando e começa a pesquisar pode ter uma noção do que seria um padrão de beleza genital. Obviamente, nossa função é esclarecer a individualidade de cada anatomia.
Ninguém é igual a ninguém! Aqui, como em qualquer outra cirurgia estética, a paciente não quer aparecer, não quer mostrar ‘poder’ a ninguém, quer apenas sentir-se bem com uma área importante e diretamente ligada à psique humana - a própria intimidade”, argumenta o cirurgião plástico.
ALERTA
O crescimento no número de cirurgias na região íntima fez a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia acender o sinal amarelo. A Federação alerta que a área exposta às intervenções cirúrgicas é composta por diversas terminações nervosas.
Para Elizeu Lavor, a cautela da Federação é uma conduta muito prudente. “Como toda cirurgia estética, muitos detalhes precisam ser observados: anatomia, expectativas, perfil psicológico, técnicas disponíveis, resultados esperados, riscos. Realmente há muitas terminações nervosas, e devido isso, áreas próximas ao clitóris não devem ser abordadas em princípio, sob pena de poder diminuir sensibilidade ou provocar dores crônicas.
Como toda cirurgia, há o risco de infecção, mas seguindo rigorosamente as recomendações médicas como uso de antibióticos, higienização adequada, abstinência sexual por 30 dias, dentre outras, o procedimento se torna bastante seguro”, afirma, acrescentando que o prazer feminino é 90% na cabeça e 10% genital.
“O que quero dizer com isso é que mesmo que estejamos diminuindo uma área dotada de sensibilidade, o benefício na autoestima e autoconfiança é tão grande, que no final das contas só terá benefícios na intensidade prazerosa, desde que seja um caso bem indicado e bem conduzido por profissional competente”, completa Lavor.
OPÇÕES CIRÚRGICAS
O cirurgião plástico, Elizeu Lavor, explica que existem pelo menos três áreas possíveis de serem abordadas em intervenções cirúrgicas íntimas. São elas:
Monte de vênus: região dos pelos pubianos, abaixo do abdômen. Pode ser feito lipoaspiração ou lipoenxertia, a depender do caso. Há casos de grande ptose (queda) dessa região, normalmente após grandes emagrecimentos. Nestes pacientes indica-se abdominoplastia, que resolve a flacidez abdominal e ao mesmo tempo reposiciona a região genital.
Grandes lábios: por fora dos pequenos lábios. Pode ser realizada lipoaspiração ou lipoenxertia. A correção por meio de enxertia, explica o médico, promove rejuvenescimento, tornando mais preenchido, menos enrugado, disfarçando a proeminência dos pequenos lábios.
Pequenos lábios: parte mais interna e central, com finalidade de proteção da cavidade vaginal e uretral, e, portanto, não deve ser eliminado completamente como comumente é feito, mas sim, diminuído para que haja o benefício sem prejuízos.
Jornal O Estado
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