terça-feira, 9 de outubro de 2012

Quanto mais cedo cuidar, melhor


FOTO: TIAGO STILLE / O ESTADO
Tathiany Nascimento
tathynascimento@oestadoce.com.br


No Brasil, 15 milhões de crianças, em idade escolar, têm o desempenho comprometido devido a problemas de refração na visão (miopia, astigmatismo e hipermetropia), segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Realidade vivenciada em Fortaleza pela estudante Heloísa Maria Guedes, que aos seis anos precisou ser operada, sob o risco de perder a visão. Embora a prevalência de doenças oculares na infância seja 10 vezes menor do que entre os adultos, ações de prevenção são fundamentais para evitar a cegueira, condição que atinge, hoje, 24,2% da população infantil brasileira. 

“Mamã e eu vejo duas televisões”. Assim Heloísa, atualmente com 12 anos, tentava, aos cinco, explicar para mãe, a professora Eliana Nogueira Guedes, que sentia o comprometimento da visão. As queixas, apesar de ouvidas, só ganharam importância no ingresso à escola. “A professora chamou minha atenção sobre a constante reclamação que as coisas não eram nítidas para ela”, contou a mãe. Uma acidente aos quatro anos de idade, quando o guidão da bicibleta feriu o olho da menina, a fez ser vítima de uma catarata, que só foi tratada alguns anos depois.

Ter dificuldade em enxerguar objetos próximos e ter problemas de interação e leitura são alguns dos embaraços que atigiam a criança. Nas primeiras consultas, o aconselhamento ao uso de um colírio, porém, meses depois, a comprovação de que só uma cirurgia evitaria a cegueira de Heloísa. O procedimento foi então buscado no Centro Avançado de Retina e Catarata, instituição cearense que há 10 anos atua com projetos que beneficiam famílias que enfretam problemas de doenças oculares infantis.

PREVENÇÃO
Para evitar que o mal seja irreversível, o médico e sócio-diretor do Centro Avançado, David Lucena, explicou que diagnósticos precoces são fundamentais. Daí a obrigação de que recém-nascidos, nos 30 primeiros dias de vida, sejam submetidos ao teste do reflexo vermelho, conhecido como “Teste do Olhinho”. O procedimento ambulatorial, segundo o médico, é capaz de identificar doenças congênitas como cataratas, tumores e glaucoma. 

Conforme relatório do CBO sobre as “Condições de Saúde Ocular no Brasil 2012”, dos 26 estados brasileiros, apenas 12 possuem legislação que obriga a realização de tal procedimento nas maternidades. No Ceará, não há previsão legal sobre o assunto. Na esfera federal, tramita no Senado, um projeto que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para que o cuidado seja obrigatório em todas as maternidades. 

Já em crianças maiores, a miopia, a hipermetropia, o astigmatismo e a catarata seguem sendo os grandes vilões. Males, que conforme o profissional podem ser evitados com ida da criança ao oftalmologista pelo memos uma vez ao ano. Além disso, ele explicou, que a mudança de clima é muitas vezes, fator determinante para a aquisição de doenças oculares momentâneas. Dentre as patologias que exigem indicação cirúrgica, a catarata e o estrabismo lideram os índices. “É comum que esses problemas só sejam percebidos na escola. Mas, os pais devem entender que não devem esperar. A responsabilidade é deles”, defendeu.

CEGUEIRA EVITÁVEL
O relatório do CBO também apontou que no Brasil cerca de metade dos estimados 1,4 milhão de casos de cegueira em crianças com menos 15 anos poderia ter sido evitado. E é justamente na tentativa de alertar sobre esse problema e colaborar para minimiza--lo que, segundo o médico David Lucena, Centro Avançado de Retina e Catarata atua desde 2003, no programa Visão 2020, uma iniciativa conjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB).

Em 2012, de acordo com ele, em Fortaleza, já foram realizadas 58 operações em crianças integrantes do projeto Te Vejo na Escola, que é outra ação, realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, onde crianças que tenham catarata, encaminhadas, por oftalmologistas da Capital e do interior do Estado, são atendidas e passam por processos cirúrgicos. Na quarta-feira (11), no Dia Mundial de Visão, um café da manhã será oferecido às crianças que já participaram do projeto.


Jornal O Estado

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