Grecianny
Carvalho Cordeiro*
Após uma certa idade, em especial,
quando do exercício do ofício materno e paterno, é que se pode realmente
perceber o quanto os clássicos infantis são aquilo que se poderia denominar de
“politicamente incorretos”.
Quem nunca se encantou
ou se fez encantar ao ler as histórias de Chapeuzinho Vermelho, Peter Pan, Os
Três Porquinhos, dentre outros clássicos da literatura infantil? No entanto, o
que passa despercebido é que os heróis e as heroínas dos contos infantis são,
na maioria, anti-heróis, dotados de uma questionável conduta, a qual escapa ao
julgamento de todos, das próprias crianças aos adultos, senão vejamos:
Chapeuzinho Vermelho dá
um péssimo exemplo quando desobedece a mãe e resolve ir pelo caminho da
floresta, embora advertida de que por ali havia um lobo malvado. A mãe, por sua
vez, se mostra uma grande irresponsável ao mandar a filha infante sozinha ir
deixar frutas, bolos e doces para a vovó doente. Isso sem levar em conta que a
senhora idosa, talvez até com diabetes e colesterol, não poderia fazer a
extravagância de comer bolos e doces.
Os Três Porquinhos são
irmãos extremamente desunidos que se recusam a morar juntos, preferindo cada um
construir sua própria casa, mesmo tendo que enfrentar as investidas de um lobo
faminto que os persegue.
Ali Babá furta o tesouro
que os Quarenta Ladrões esconderam na caverna, com o qual constrói uma fortuna
e pede a mão da filha do rei da Pérsia em casamento. Igual feito é promovido
por Simbad O Marujo, ao furtar o tesouro dos piratas e com ele constituir sua
fortuna.
Pínóquio, por sua vez, é
um grande mentiroso que engana a todo o mundo e, em especial, ao seu pai
Gepeto, sendo finalmente agraciado pela fada e se tornando um menino de verdade.
O pai da Bela se acorvarda diante da Fera e permite que sua única e amada filha vá morar no castelo com o monstro, como punição pela flor que furtara de seu jardim, ao invés de protegê-la a todo custo.
João troca a única vaca
da família por sementes mágicas de feijão, sobe no enorme pé-de-feijão e furta
do castelo do gigante a harpa encantada e a galinha dos ovos de ouro.
O Pequeno Polegar invade
com os irmãos a casa do gigante, que sai em sua perseguição e, quando o infeliz
adormece debaixo de uma árvore, o garoto furta suas botas e se torna o mais
rápido mensageiro do rei.
O pior de tudo é
verificar que algumas crianças se tornaram adultas e resolveram incorporar
esses maravilhosos personagens dos contos infantis, da forma mais deturpada
possível, exemplo disso são aqueles que protagonizam as cenas diárias da vida
política brasileira, são pinóquios, simbads, alis babás, “cuecões”, “mensalões”...
Qualquer semelhança será mera coincidência.
*Promotora de Justiça
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