segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Menos dinheiro, mais criatividade

Prêmios internacionais destacam qualidade acima da média de filmes produzidos por Hollywood em 2012

As listas e premiações de melhores do ano revelam um padrão atípico. Dezenas de títulos que se espalham tanto pelas associações de críticos quanto pelas organizações da indústria de Hollywood. Fica a pergunta: será a produção cinematográfica de 2012 a melhor do cinema dos EUA neste século?

"Argo", "A hora mais escura" e "007 - Operação Skyfall": destaques em ano de boa safra dos EUA

Ao longo do ano, dezenas de filmes das grandes produtoras e dos estúdios independentes vêm se digladiando em busca de espaço no ranking de bilheteria dos EUA. Neste ano, os "blockbusters", salvo raras exceções, não tiveram estadia fácil nos cinemas. Dezenas de produções pequenas, com orçamentos inferiores a US$ 20 milhões de dólares (uma mixaria para os padrões de Hollywood), fizeram a cabeça não apenas da crítica, mas também do público.

Esse sucesso e qualidade inesperados das pequenas produções estão se revelando agora, quando as associações de críticos e entidades da indústria elegem e premiam os melhores filmes do ano. E quem está predominando? As produções independentes com menos custo e mais criatividade ou a força milionária das produções bombásticas produzidas pelos grandes estúdios? O resposta para a questão ainda é nebulosa.

Steve Pond, analista do site thewrap, detectou uma manobra da Motion Picture Academy Arts & Sciences - que rege a Academia de Hollywood, responsável pelo Oscar - em antecipar para 10 de janeiro às suas indicações ao prêmio a fim de reduzir o espaço e o impacto das indicações da Academia de Imprensa Estrangeira em Hollywood, responsável pelo Globo de Ouro. Sabe-se que essa Academia costuma destacar as produções independentes e tem uma grande influência em termos de exigência de qualidade dos filmes. Já a Academia de Hollywood, sofre forte influência dos grandes estúdios.

Na guerra de interesses, os filmes se sobressaem. E não são poucos em destaque. Para ter uma ideia da qualidade dos filmes da safra 2012, basta acompanhar as eleições das associações de críticos de cinema, as associações da imprensa estrangeira e as organizações do próprio mercado cinematográfico.

É importante observar a diversidade de títulos indicados ou premiados. A Sociedade de Críticos de Cinema de San Diego elegeu o thriller "Argo" o melhor filme e seu diretor, Ben Affleck, o cineasta do ano.

Os críticos de Boston são respeitados porque costumam "prever" os ganhadores do Oscar. A Sociedade de Críticos de Cinema de Las Vegas elegeu, para a surpresa de muitos, "As Aventuras de Pi" o melhor filme do ano. Ang Lee, a reboque, o melhor diretor.

A Associação dos Críticos de Los Angeles elegeu como o melhor filme do ano uma produção estrangeira, "Amour", de Michael Haneke, e como segundo, "O Mestre", de Paul Thomas Anderson, que abocanhou quatro troféus, incluindo o de melhor diretor. Para a surpresa geral, ignorou "A Hora Mais Escura", de Katryn Bigelow, que ficou apenas com o troféu de melhor montagem. O recebeu o prêmio de melhor do ano da New York Film Critics Online; Bigelow foi eleita a melhor diretora. "Amour" venceu na categoria filme estrangeiro.

A Associação Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA elegeu "A Hora Mais Escura" como o melhor filme e Bigelow a melhor realizadora. Lembrando que foi essa entidade que colocar o thriller no circuito das premiações quando não tinha sido lembrado pelo Spirit e Gotham Independent (que premiou "Moonrise Kingdom" como o melhor da temporada).

Indicações

Um dos três maiores prêmios do cinema independente, o Satellite Awards, indicou "A Hora Mais Escura", "As Aventuras de Pi", "As Sessões", "Argo", "Indomável Sonhadora", "Lincoln", "Moonrise Kingdom", "O Lado Bom da Vida", "Os Miseráveis" e "007 - Skyfall" a melhor filme. Estranha-se que "007" e "Lincoln", produções de grandes estúdios, estejam fazendo na lista.

O American Film Institute não colocou, entre os 10 indidcados a melhor filme, "O Mestre", de Paul Thomas Anderson, e estranhamente surgiu com "Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge". "Django Livre" e "Os Miseráveis", ainda não lançados, também integram a lista.

Mas, a lista mais polêmica ainda é a do Globo de Ouro, que indicou a melhor filme/drama, a biografia "Lincoln", o faroeste "Django Livre", o thriller "Argo" e "As Aventuras de Pi", além da espionagem "A Hora Mais escura". Como melhor filme/musical ou comédia, os dramas "O Excêntrico Hotel Marigold", "Moonrise Kingdom" e "Amor Impossível", o musical "Os Miseráveis" e a comédia romântica "O Lado Bom da Vida".

Peter Knegte e Eric Kohn, analistas do site Indiewire, fora da polêmica do Globo de Ouro, discutem se a safra da temporada é a melhor dos últimos 12 anos. Kohn, em seu artigo, diz abertamente que está amando "uma temporada notável". E o Oscar é quem vai ganhar com isso.

Ele cita "Lincoln" com o drama histórico mais impressionante desde "A Lista de Schindler" e vê no longa-metragem "A Hora Mais Escura" uma combinação de "puro jornalismo com habilidades cinematográficas para dissecar as nossas ansiedades culturais".

"Grandes filmes estúdios estão saindo em pacotes inteligentes a esquerda e a direita", salienta. Ele considera "Os Miseráveis" um filme "mal concebido" e "Django Livre" uma "desanimada bagunça", mas que tem momentos de beleza estética. Lamenta que "O Mestre" tenha sido recebido como um filme "estranho" e destaca "A Hora Mais escura" e "Argo" como os melhores do ano. Mas, é "As Aventuras de Pi" que perdura na retina.

Peter Knegt concorda que esta é a "mais aquecida temporada de premiação em alguns anos". Não apenas para nós críticos, coloca, mas também "ótimo para o grande público". Ele revela que o seu filme preferido é "A Hora Mais Escura" e não será surpresa "se não se tornar um sucesso de bilheteria em poucas semanas".

PEDRO MARTINS FREIRECRÍTICO DE CINEMA 
Diário do Nordeste

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