sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Crepúsculo" chega ao fim e deixa sua marca na cultura pop


O TRIÂNGULO Taylor Lautner (Jacob), Kristen Stewart (Bella) e Robert Pattinson (Edward). Eles  encarnaram um triângulo clássico que empolgou milhões de fãs no mundo todo (Foto: Sam Jones/Trunk Archive)Tudo começou em 2003 com um pesadelo: um vampiro mordiscava a jugular de uma virgem sob o olhar ciumento de um lobisomem. A dona de casa americana Stephenie Meyer, de 30 anos, casada com um empresário, moradora de Salt Lake City e mórmon, acordou assustada. “Logo me acalmei”, disse ela a ÉPOCA. “Foi quando me dei conta de que tinha uma história para escrever.” Entre o sonho e a estreia do quinto e último filme da saga vampiresca Crepúsculo, que estreou na semana passada, passaram-se nove anos, durante os quais Stephenie causou um fenômeno global de consequências duradouras. Além daqueles dois furos no pescoço pálido de Bella, o vampiro Edward deixou uma multidão de referências no universo de suas fãs.
Primeiro, os números. De 2005 a 2008, Stephenie lançou quatro romances que eletrizaram adolescentes e adultos, especialmente o público feminino. A tetralogia formada pelos romances Crepúsculo (2005), Lua nova (2006), Eclipse (2007) e Amanhecer (2009) vendeu 150 milhões de exemplares no mundo todo – só no Brasil, até o início do mês, foram 5,7 milhões. “Juro que nunca, nunca esperava fazer tanto sucesso”, afirma Stephenie. “Jamais imaginei que minha imaginação faria parte da vida de tantas pessoas nem que um dia fosse participar da produção de um filme. Com o tempo, me acostumei. Aprendi a ser corajosa, até no set.”


Enquanto escrevia Lua nova e começava a colecionar fãs pelo planeta inteiro, Stephenie fechou contrato com o pequeno estúdio Summitt Entertainment para adaptar sua história para o cinema. “Foi uma sensação única explicar aos atores como via meus próprios personagens”, diz. A saga fez ainda mais sucesso no cinema, catapultou a venda dos livros e transformou Stephenie numa produtora multimilionária. Crepúsculo, que estreou em 2008, tinha um orçamento modesto, de US$ 37 milhões. Faturou US$ 382 milhões. Os dois longas-metragens seguintes – Lua nova(2009) e Eclipse (2010) – renderam cerca de US$ 700 milhões cada um. O êxito incentivou o estúdio a dividir o último filme em duas partes. Amanhecer – Parte 1 estreou em 2011 e alcançou uma bilheteria de US$ 700 milhões. A esperança dos produtores é que Amanhecer – Parte 2, que estreia mundialmente no dia 16, atinja um recorde de bilheteria.
Se os lucros são grandes, a influência da história de Stephenie Meyer sobre os jovens parece ser ainda maior. São modas, valores, padrões de comportamento, novas modalidades de leitura, música e até escândalos (leia o quadro na página 128). Assim como Harry Potter antes eCinquenta tons de cinza depois, Crepúsculo foi uma espécie de romance de formação para uma infinidade de garotas e garotos. Apesar da modéstia de Stephenie, ela impregnou uma geração com suas ideias. Conseguiu criar personagens que incendiaram a imaginação e marcaram a vida de seus leitores.
O tema essencial de Crepúsculo é a educação sentimental de uma donzela, a humana Isabella Swan (interpretada no cinema por Kristen Stewart). Ela divide seu afeto entre dois seres fantásticos: o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob Black (Taylor Lautner). Depois de batalhas épicas com matilhas e grupos rivais de vampiros, nas quais os sentimentos de Bella e seus pretendentes são testados sob o risco de morte, Edward arrebata o coração de Bella e casa-se com ela. Ele, naturalmente, não é uma criatura das trevas. Trata-se de um vampiro quase vegetariano, que bebe apenas sangue de animais e pertence a uma família de mortos-vivos extremamente virtuosa, os Cullens. Na primeira parte de Amanhecer, Bella perde a virgindade (em Angra dos Reis), engravida e quase aborta. Nesse instante, torna-se vampira. Para eliminar a hemorragia e salvar a criança, Edward suga-lhe todo o sangue. Bella dá à luz Renesmee – uma menina adorável, mas que gosta de morder gargantas e deve ser educada nos preceitos do clã Cullen. No último filme, Bella e Edward precisam defender sua herdeira da perseguição de vampiros tradicionalistas.
A CRIADORA A escritora Stephenie Meyer em 2011 no set. “Com o sucesso, aprendi a ser corajosa” (Foto: divulgação)
As referências simbólicas explicam a excitação que a saga exerce sobre o público. “Os vampiros são atraentes para os adolescentes”, afirma a psicanalista Diana Corso, autora do livro Psicanálise da Terra do Nunca (2010). “Eles não crescem, não precisam abandonar a família, vão casando e ficando por ali.” Outra fantasia se refere à perda da virgindade. “É um peso para os adolescentes”, afirma Diana. “Eles acreditam que viver em torno de uma paixão é uma resposta para todos os seus problemas.” Segundo Christine Seifert, professora da Universidade de Westminster, de Salt Lake City, os “filhos de Crepúsculo” são, acima de tudo, apreciadores de fantasias. “Crepúsculo realiza o ideal de encontrar a alma gêmea”, afirma. “Além de ser uma mensagem limitada, não tem nada de realista.”
A fantasia de Bella, Edward e Jacob, expressa por Stephenie em linguagem totalmente despretensiosa, incentivou os leitores e os espectadores a elaborar seus próprios enredos. Houve uma disseminação mundial da fan fiction, ou fanfic, uma modalidade de exercício literário em que os fãs continuam ou recriam as histórias que admiraram. Um exemplo é a admiradora inglesa de Crepúsculo Erika Leonard James, cuja trilogia Cinquenta tons de cinza começou como uma fan fiction erótica de Crepúsculo. “Stephenie Meyer tornou-se um modelo para os leitores. Por causa dela, eles começaram a criar suas próprias aventuras”, disse E.L. James a ÉPOCA. Os leitores de Meyer parecem transitar felizes entre Bella e Anastasia, a virgem de E.L. James. A assessora imobiliária Carla de Souza, de 26 anos, gosta das duas sagas. “As autoras de fan fiction me incentivaram a experimentar coisas novas”, diz. “No começo, estranhei E.L. James, mas depois amei os livros dela, porque me ajudaram a vencer alguns preconceitos em relação ao sexo.” Além do sucesso de bilheteria e do apelo para os jovens, Crepúsculo abriu um novo horizonte ao consumidor de livros e filmes. Transformou-o em produtor. Hoje, qualquer um se sente incentivado a escrever uma história e a se tornar escritor ou até cineasta. Para isso, diz Stephenie Meyer, basta encontrar uma história capaz de atrair milhões: “Não é fácil. A minha surgiu enquanto eu dormia. Mas a fórmula do sucesso ainda é uma incógnita”.
10 coisas que ficarão de Crepúsculo (Foto: Divulgação (6), AKM Images/SDFL/Splash News e FameFlynet/The Grosby )

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