Grecianny Carvalho Cordeiro*
A literatura cearense pede socorro. Foi noticiado em
veículos de comunicação que a disciplina de literatura cearense foi retirada do
curso de Letras da Universidade Federal do Ceará.
Tal disciplina era ministrada primeiramente em dois
semestres, depois em um, e agora, de jeito nenhum, conforme relatado pela
reportagem.
É certo que a literatura cearense não recebe a devida
atenção por parte dos próprios conterrâneos; muitos escritores cearenses têm
espaço e renome no âmbito nacional e até internacional, contudo, sem o merecido
espaço e reconhecimento na terra natal. Até aí, tudo bem, porque nenhum profeta
é aceito em sua própria terra, conforme relata uma passagem bíblica do livro de
Lucas (4:24). No entanto, não se estudar a literatura cearense num curso de
Letras é algo no mínimo escandaloso, digno de preocupação e de repúdio.
Retirar do acadêmico do curso de Letras o contato mais
que direto com autores cearenses é não incentivar a produção literária
cearense, é desprezar a cultura cearense, é renegar nossas raízes, nosso
patrimônio cultural.
Talvez seja a hora de as universidades cearenses
repensarem sua postura de desprezo e/ou descaso em relação à produção literária
cearense, de valorizar a prata da casa, principalmente por parte daqueles que
estudam literatura. E literatura cearense não é somente José de Alencar e
Raquel de Queiroz, outros escritores surgiram e outros surgirão, temos Ana
Miranda, temos Adísia Sá...
Por outro lado, num Estado onde a Bienal do Livro é um
acontecimento marcante, onde milhares de pessoas por ali passam, o governo
(municipal e estadual) deve ver a literatura cearense com outros olhos, mais
simpáticos, mais incentivadores, de modo a que nossa cultura não se perca num
mercado tão difícil, tão competitivo.
Mas
essa postura diante da produção literária regional não se restringe aos meios
acadêmicos. O problema vai longe.
No Ceará, nem mesmo as livrarias demonstram interesse em
ter livros de autores cearenses em suas prateleiras, e quando o têm, os colocam
em lugares que nem mesmo o mais atento leitor consegue encontrar. No aeroporto,
para se colocar um livro de autor cearense tem de a obra passar pelo crivo da
livraria matriz.
As escolas com suas bibliotecas gigantescas, com milhares
de centenas de livros, com certeza quase não dispõem de livros de autores
cearenses.
Tudo isso tem de ser revisto, repensado. Afinal, é a
nossa cultura que está em jogo.
*Promotora de Justiça
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