quarta-feira, 14 de novembro de 2012

LITERATURA CEARENSE


Grecianny Carvalho Cordeiro*

A literatura cearense pede socorro. Foi noticiado em veículos de comunicação que a disciplina de literatura cearense foi retirada do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará.

Tal disciplina era ministrada primeiramente em dois semestres, depois em um, e agora, de jeito nenhum, conforme relatado pela reportagem.

É certo que a literatura cearense não recebe a devida atenção por parte dos próprios conterrâneos; muitos escritores cearenses têm espaço e renome no âmbito nacional e até internacional, contudo, sem o merecido espaço e reconhecimento na terra natal. Até aí, tudo bem, porque nenhum profeta é aceito em sua própria terra, conforme relata uma passagem bíblica do livro de Lucas (4:24). No entanto, não se estudar a literatura cearense num curso de Letras é algo no mínimo escandaloso, digno de preocupação e de repúdio.

Retirar do acadêmico do curso de Letras o contato mais que direto com autores cearenses é não incentivar a produção literária cearense, é desprezar a cultura cearense, é renegar nossas raízes, nosso patrimônio cultural.

Talvez seja a hora de as universidades cearenses repensarem sua postura de desprezo e/ou descaso em relação à produção literária cearense, de valorizar a prata da casa, principalmente por parte daqueles que estudam literatura. E literatura cearense não é somente José de Alencar e Raquel de Queiroz, outros escritores surgiram e outros surgirão, temos Ana Miranda, temos Adísia Sá...           

Por outro lado, num Estado onde a Bienal do Livro é um acontecimento marcante, onde milhares de pessoas por ali passam, o governo (municipal e estadual) deve ver a literatura cearense com outros olhos, mais simpáticos, mais incentivadores, de modo a que nossa cultura não se perca num mercado tão difícil, tão competitivo.

Mas essa postura diante da produção literária regional não se restringe aos meios acadêmicos. O problema vai longe.

No Ceará, nem mesmo as livrarias demonstram interesse em ter livros de autores cearenses em suas prateleiras, e quando o têm, os colocam em lugares que nem mesmo o mais atento leitor consegue encontrar. No aeroporto, para se colocar um livro de autor cearense tem de a obra passar pelo crivo da livraria matriz.

As escolas com suas bibliotecas gigantescas, com milhares de centenas de livros, com certeza quase não dispõem de livros de autores cearenses.

Tudo isso tem de ser revisto, repensado. Afinal, é a nossa cultura que está em jogo.

*Promotora de Justiça
            

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