segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Centenas protestam contra o aborto


SARA OLIVEIRA
saraoliveira@oestadoce.com.br
A não interrupção da gravidez, a favor da vida. Cerca de 300 pessoas caminharam pelo calçadão da Avenida Beira Mar, ontem, para posicionar-se contra a ampliação das hipóteses de descriminalização do aborto.
Representações religiosas, famílias e artistas protagonizaram marcha que saiu da Aterro da Praia de Iracema e seguiu até a Praça dos Estressados. As areias da orla fortalezense receberam, ainda, 80 cruzes que carregavam nomes de mulheres que teriam morrido vítimas de abortos clandestinos.
A iniciativa é nacional, executada pelo Movimento em Favor da Vida (Movida) e que já coleciona marchas em outras capitais. A do Ceará, porém, deverá ter mais peso. De acordo com a presidente do Movida, Lenise Garcia, a ação poderá sensibilizar o senador Eunício Oliveira (PMDB), cearense, que preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal. A Comissão é quem analisa a reforma do Novo Código Penal, que prevê modificações em crimes como aborto, eutanásia, estupro presumido e infrações graves de trânsito.
Outro projeto que tramita na Câmara dos Deputados é o Estatuto do Nascituro, que visa oferecer proteção integral ao feto desde sua fecundação. “A proposta é de que haja garantias para as mães e, um dos artigos, é específico sobre as vítimas de estupro.
As mulheres precisam de ajuda para escolher o que querem, ou acabam seguindo o caminho mais fácil”, declarou Lenise. O projeto tramita desde 2007 e, durante a marcha, foram recolhidas assinaturas a fim de pressionar sua votação. 
NÚMEROS FICTÍCIOS
Para Lenise, os números sobre abortos são “fictícios”. No Ceará, entre 1998 a 2009, o aborto foi a terceira causa de mortes maternas; de 1.416 óbitos, 84 (9,8%) foram em decorrência da expulsão prematura de um embrião do útero. De acordo com Informe Epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), dentre as causas obstétricas de morte materna, o aborto está em quarto lugar.

Segundo dados do Informe, a colocação no ranking sugere uma deficiência na organização da rede de referência obstétrica. O insuficiente acesso a métodos contraceptivos e de atenção e criminalização do aborto, conforme o documento, contribui para o agravamento do problema. Em 2010 e 2011, a classificação da Sesa quanto aos óbitos maternos não foi especificada: foram 114 mortes em 2010 e 106 mortes investigadas em 2011.
Para a coordenadora do Comitê Estadual do Movida, Maria José da Silva, aproximadamente 85% dos brasileiros não aprovam a descriminalização do aborto. “Os 15% que restam não sabem os detalhes e traumas de um procedimento como este. Falta informação, para as pessoas e, principalmente, para as mulheres”, destacou, mostrando em uma das mãos, um pequeno boneco, em forma de feto. “Com 10 semanas, ele já está assim, todo formadinho”, frisou.
ARTISTAS A FAVOR DA VIDA
Uma das presenças mais marcantes na Marcha foi da cantora paraibana Elba Ramalho. Em cima de um pequeno trio elétrico, ela, juntamente como os artistas Nando Cordel, Chico Pessoa e Waldonys, incentivavam a luta contra o aborto. “Somos voluntários pela vida”, ressaltou a cantora. Para Elba Ramalho, houve, no Brasil, através dos anos, a construção de uma cultura de morte.

“A escolha da mulher, que às vezes reflete a história do cerceamento do direito, não pode significar a escolha de um inocente”, declarou.
Aos poucos, mais pessoas chegavam para acompanhar a marcha, que seguiu ao som de músicas que traziam, em suas letras, palavras como coração, vida, aborto e direito.
O técnico de Segurança do Trabalho, Daniel Gomes, levou a esposa, o filho e a sobrinho para participarem do evento. “Não temos o poder de tirar a vida de ninguém. Conheço uma pessoa que abortou só porque, naquele momento, seria promovida no trabalho. Isso é desumano”, afirmou.
CRUZES FINCADAS
Durante a manhã de ontem, cerca de 80 cruzes foram fixadas nas areias da Praia de Iracema. Em cada uma, um nome e uma data, referente à morte de mulheres vítimas de abortos.

Uma faixa trazia os dizeres “As ricas abortam, as pobres morrem. Hipocrisia dá hemorragia”. Para a paranaense Alba Lopes, 45, a questão do aborto “é uma moeda de dois lados”. “A mulher precisa se prevenir e não tirar um filho quando quiser, mas em alguns casos, como os de bebês sem cérebro, é uma necessidade. Temos muito o que pensar ainda sobre isso”, opinou.
SERVIÇO
Para posicionar-se contra ou a favor da descriminalização do aborto, qualquer cidadão pode ligar para o número do Senado Federal – 0800612211- informar o número do RG e opinar.

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