sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Fale bem, impressione o chefe e receba os aplausos


HORA DO SHOW Muitos acham difícil se expressar de forma convincente. Falar bem virou necessidade para todo profissional   (Foto: Shutterstock)Há alguns meses, fiquei sabendo que precisaria apresentar um projeto no trabalho, na Editora Globo. Teria de propor e defender um projeto, com alguns colegas, diante de uma centena de profissionais da empresa, de vários níveis e departamentos. Na noite anterior à apresentação, tive insônia e pesadelos. Sonhei que, em cima do palco, com um auditório cheio a minha frente, não conseguia falar uma palavra. No dia da apresentação, mesmo depois de ensaiar algumas vezes o início da minha fala, fiquei insegura. Me deu um branco. Esqueci tudo quando pisei no palco.
Resolvi, então, buscar orientação com cinco consultores e profissionais com experiência em apresentações no ambiente profissional. Um deles, Roberto Shinyashiki, é médico psiquiatra e uma espécie de guru das apresentações no Brasil. Logo no início, ele criticou meu método de “ensaiar algumas vezes”. “A chave do combate ao nervosismo é treinar, treinar, treinar. Se você fizer a mesma apresentação dez vezes, você mesma ficará impressionada com quanto ela vai melhorar”, diz. Ele lançou em outubro um novo livro sobre o tema: Os segredos das apresentações poderosas. Também fui a um curso dele sobre como dar palestras. Estava lotado. A vontade de falar bem em público não é só minha.
Para a maioria das pessoas, subir num palco para fazer uma apresentação é algo incomum na vida. Mas vem ficando maior nas empresas a necessidade de propor e defender ideias para um grupo, numa reunião, para um chefe ou cliente. “Já houve um tempo em que o bom profissional técnico podia se arriscar a ficar quieto e lidar só com o chefe imediato e os colegas mais próximos”, diz a consultora de recursos humanos Vivian Dib, diretora da Randstadt, acostumada a lidar com profissionais de todos os níveis. Isso mudou. As empresas passaram a lidar com públicos diversos, a abrigar maior diversidade de tipos de funcionários e a tratar de questões tão distintas quanto responsabilidade ambiental e impacto nas redes sociais. “Hoje, mesmo o profissional técnico precisa saber interagir bem com outras áreas da empresa e propor suas ideias. Tornou-se mais raro o chefe que só fala. Ele também quer ouvir”, afirma Vivian. A mesma necessidade de se expressar bem vale para vendedores diante de clientes, médicos diante de pacientes ou chefes diante de equipes. Isso ainda representa um grande desafio para o profissional brasileiro.
A reação que tive antes de minha apresentação reflete um problema comum: o medo de falar em público. Recentemente, uma pesquisa feita entre alunos da Universidade de São Paulo revelou que 24% deles sentem grande dificuldade em se expressar diante de ouvintes com quem não têm intimidade. Pedro Figoli, sócio fundador da empresa de inteligência de mercado Geofusion, se incluía nessa estatística. “No início, foi difícil. Preferia não pensar muito no que podia acontecer”, diz. Após 16 anos fazendo apresentações em sua empresa, Figoli ainda se diz introvertido, mas mais à vontade com o palco. “Tive de ganhar milhagem de apresentação”, diz. Em dezembro de 2011, após algumas apresentações, conseguiu que o fundo Criatec investisse em sua empresa.
Tenho alguma identidade com Figoli. Ao contrário do empresário, fui uma criança extrovertida e até um pouco exibida. Nos vídeos da família, apareço frequentemente em primeiro plano, fazendo graça para chamar a atenção. Nos eventos especiais do colégio, era escolhida para representar a turma. Na igreja, quase toda semana, fazia uma das leituras. Tanta desinibição se perdeu em algum momento da minha infância ou adolescência. Depois de adulta, falar em público se tornou um enorme problema.
A dificuldade dos brasileiros vem da escola. Em países da Europa e nos Estados Unidos, o hábito de se apresentar e falar em público é desenvolvido desde cedo. No Brasil, as crianças e os jovens não têm o mesmo estímulo. A apresentação de trabalhos em formato de seminários é mais comum durante a universidade. Mesmo assim, o professor concentra sua avaliação no conteúdo e pouco se importa com a forma de apresentar. Não por acaso, quando pensamos em grandes apresentações profissionais, um dos primeiros nomes a surgir é o americano Steve Jobs (1955-2011), cofundador da Apple. Jobs atraía centenas de milhares de pessoas aos eventos de apresentação dos novos produtos da empresa. Muitos compareciam não pelos produtos, mas para vê-lo, ouvi-lo e idolatrá-lo. “Quando a apresentação acabava, era difícil não querer comprar aquele produto”, diz Shinyashiki. Outra criação americana é o TED, seminário em que grandes ideias são expostas em 18 minutos. O TED se tornou um fenômeno mundial e referência em boas apresentações.
As palestras de Jobs e do TED têm me ajudado. Percebi que precisarei definir meu próprio roteiro de treinamento, preparação e relaxamento. A melhor técnica, dizem, é a que funciona bem para você. A consultora Flávia Lippi dá uma dica preciosa para ajudar os ansiosos como eu a não ter pesadelos na noite anterior. “Um dia antes, faça uma visualização mental do espaço onde se apresentará. Imagine a situação exatamente como gostaria que ela acontecesse”, diz. Já estou imaginando. Mesmo que a apresentação não saia exatamente como planejei, espero ter a oportunidade de fazer várias dessas ao longo da minha vida profissional. Sei que cada uma será melhor que a anterior.
  

Revista Época

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