sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Site que analisa letras de música sonha revolucionar a navegação na web


NOVOS RICOS Mahbod Moghadam (à esq.), Ilan Zechory e Tom Lehman, os criadores do Rap Genius. O site deles vale US$ 15 milhões  (Foto: Mark Ostow/Reuters)Aos 26 anos, o iraniano Mahbod Moghadam detestava seu emprego. Formado em Direito pela Universidade Yale, nos Estados Unidos, considerava torturantes as horas passadas dentro de um escritório de advocacia, no centro de Nova York. Quando foi demitido, em agosto de 2009, não reclamou. Passou a gastar as tardes do jeito que gostava – jogando conversa fora e ouvindo hip-hop. Com o tempo, seus dois grandes amigos de faculdade, Tom Lehman e Ilan Zechory, ambos com 25 anos, começaram a ficar preocupados. Moghadam estava obcecado. Seu único assunto era rap. De iPod na mão, ansioso, ele explicava cada verso com detalhes. Por horas. Lehman, um programador habilidoso, teve então uma ideia: criar um site terapêutico para o amigo. Nele, Moghadam colocaria suas letras prediletas e comentaria os trechos que quisesse. O nome seria uma referência ao rapper Notorious B.I.G., um de seus favoritos: Rap Genius.
Para a surpresa de Moghadam, o site ficou ótimo. Após alguns ajustes, o trio começou a convidar colegas a visitar e participar dele. O modo de operação era típico da interatividade da internet. Primeiro, um usuário inseria uma letra de canção e analisava alguns versos. Depois surgia outro para comentar trechos diferentes. A seguir, novos visitantes esclareciam gírias, contextualizavam canções e subiam mais músicas. Crescia, assim, uma espécie de Wikipédia do rap. Qualquer um que entrasse ali poderia, ao mesmo tempo, ouvir a música, compreender a letra e ampliar o conhecimento sobre o tema. Até mesmo rappers consagrados, como os americanos Nas e 50 Cent, viraram frequentadores. Hoje, são mais de 2 milhões de visitantes todo mês.
No capítulo mais recente da história de êxito de Moghadam e seus amigos, em 3 de outubro o site recebeu um investimento de US$ 15 milhões. A quantia veio do fundo de capital de risco Horowitz Andreessen, que leva o sobrenome de dois dos principais empresários do Vale do Silício: Ben Horowitz, ex-dono da Opsware, companhia de software vendida à Hewlett-Packard por US$ 1,6 bilhão em 2007; e Marc Andreessen, o criador do Mosaic, o primeiro navegador de internet. No comunicado que anunciou o negócio, Andreessen explicou que o Rap Genius deverá se tornar um dos maiores sites do mundo num futuro próximo. O trunfo dos jovens criadores, disse ele, foi permitir o debate colaborativo no mesmo espaço do entretenimento. Algo similar ao que ele mesmo tentou fazer, sem sucesso, em 1993, ao lado do desenvolvedor Eric Bina. “Nossa ideia era que cada página da web pudesse ser uma plataforma de debates sobre seu próprio conteúdo”, escreveu Andreessen. Agora, com a internet mais madura e o crescimento do Rap Genius, ele quer retomar o plano. Acredita que, no futuro, todo conteúdo on-line ganhará anotações dos visitantes, proporcionando navegações aprofundadas.
De alguma forma, a expansão do Rap Genius já vem ocorrendo. Os internautas hoje colocam músicas de outros gêneros, como rock e country. Também analisam discursos presidenciais e até artigos acadêmicos. No ano passado, um professor de inglês pôs no site um trecho de O grande Gatsby, romance do escritor F. Scott Fitzgerald, para seus alunos debater. Um professor de Direito da Universidade Stanford dissecou leis de direitos autorais americanas. As aplicações para a plataforma, dizem os criadores do Rap Genius, são infinitas. “Agora estamos contratando pessoas para liderar comunidades de indie rock, leis, poesia e textos religiosos”, disse Moghadam a ÉPOCA. Ainda dominado por conteúdo em inglês, o site busca se popularizar em outros idiomas. De acordo com Moghadam, a comunidade brasileira, ainda pequena, ganhará força nos próximos meses.
Até o início de 2013, o grupo deverá lançar um aplicativo de Rap Genius para smartphones. Depois, a missão do trio será criar o Medical Genius, que servirá para tratar de questões de saúde. “Isso mudará o conhecimento humano”, diz Moghadam, sem esconder a ambição. Rico aos 29 anos, ele se diz enfim realizado. “Tem sido uma terapia.” E comemora como um bom fã de rap. “O dinheiro não importa. Serve só para o champanhe.”

Como funciona o Rap Genius?
Quatro passos para entender a interação dos fãs de música no site
1. Envio do material
O internauta publica a letra e depois um link do Youtube com a música completa. Ao comentar, é melhor evitar gírias
2. Anotações pessoais
Ao inserir a letra, o usuário marca trechos que quer explicar ou discutir. Pode selecionar uma palavra e dar sua definição
3. O público comenta
A letra com anotações se torna pública e é reproduzida com o som do vídeo. Os visitantes marcam outros trechos que quiserem analisar
4. Os melhores sobressaem
O conteúdo passa a ser gerido pela comunidade. Todos podem sugerir melhorias nas análises. As explicações mais completas ficam mais visíveis
 
Revista Época

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