quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Mãe diz que entregou gêmeos para estrangeiros há dez anos

Samuel Lima


No mesmo dia em que uma equipe do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) iniciou os trabalhos de correição no Fórum de Euclides da Cunha (a 327 km de Salvador), o juiz local, Luís Roberto Cappio, passou a apurar nova denúncia de adoção irregular de crianças. O novo caso relatado é o de um casal de gêmeos, entregue a estrangeiros, em agosto de 2002 - dez anos antes do escândalo decorrente da retirada de cinco crianças de uma família da cidade vizinha de Monte Santo (a 352 km da capital) e entregues a famílias paulistas, ocorrida em junho de 2011, mas que foi denunciada este ano.
Para Cappio, a nova denúncia reforça suspeita de que uma quadrilha agiria na região: "O caso foi há dez anos, e é óbvio que não foi o único, temos que saber quantos foram. O indício é de tráfico, internacional inclusive". A mãe dos gêmeos hoje tem 31 anos. Ela contou ter entregue os bebês no dia seguinte ao nascimento a uma moradora de Euclides da Cunha que seria a agenciadora: "Eu não tinha como cuidar deles, pois já tinha dois filhos (hoje com 13 e 12 anos). Não tive apoio do pai deles". Ela declarou ter recebido uma cesta básica para entregar as crianças. O depoimento foi colhido pelo promotor público Luciano Ghignone.
Ela disse que as pessoas que receberam os bebês não falavam português e chegaram de avião em um campo de pouso da região: "Me disseram que um casal de São Paulo ficaria com os bebês, mas eles falavam outra língua, acho que espanhol. Eu só quero saber se eles estão bem e aceito os dois de volta se estiverem sendo maltratados ou se eles quiserem".
Ela conheceu a agenciadora quando trabalhava para ela como doméstica. Hoje vive em uma casa humilde com os pais e os outros filhos - teve mais dois após os gêmeos. A mulher falou, ainda, sobre uma amiga que também teria gêmeos levados pela mesma agenciadora. O magistrado Cappio não descarta incluir a dona de casa em um programa de proteção.
Silêncio na CPI - Também nesta terça, 13, a principal suspeita de intermediar as adoções ilegais em Monte Santo, Carmen Topschall, compareceu à Câmara Federal, em Brasília, para falar aos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas.
Acompanhada por dois advogados e munida de habeas corpus, ela se recusou a falar, irritando os deputados. O marido dela, o alemão Bernhard Topschall, também com habeas corpus, ficou calado.
UOL Notícias

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